Relator do arcabouço fiscal inclui dispositivos que permitem expansão de gastos do governo nos próximos dois anos

Segundo Cláudio Cajado, dispositivos foram incluídos para compensar os efeitos da desoneração dos combustíveis em 2022, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que baixaram a inflação temporariamente, afetando o cálculo do indicador este ano
18 de maio de 2023

O projeto do novo arcabouço fiscal, que teve seu pedido de urgência aprovado ontem (17) na Câmara dos Deputados com vantagem maior que a esperada, permite a ampliação das despesas do governo federal para algo em torno de R$ 80 bilhões nos próximos dois anos. A estimativa é do mercado financeiro, que avaliou dois dispositivos incluídos no texto pelo relator, o deputado federal Cláudio Cajado (PP-BA). Contudo, de acordo com técnicos que assessoram o parlamentar, o valor é cerca de metade do que projeta o mercado, e estaria, na verdade, na casa dos R$ 42 bilhões.

Em 2024, primeiro ano de validade do novo marco fiscal, que substitui o teto de gastos (regra que limitava o aumento de gastos do governo à inflação do período anterior), o governo poderá ampliar as despesas primárias no limite máximo permitido pela nova regra: 2,5% acima da inflação. A permissão de gastos do novo arcabouço fiscal tem como um de seus pilares a regra de que as despesas devem crescer entre 0,6% e 2,5% acima da inflação a cada ano.

O dispositivo incluído por Cajado não constava do texto original elaborado pela equipe econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A inclusão do mecanismo foi fruto de negociação entre o relator e o governo.

O governo aceitou negociar desde que o relator deixasse de fora dos mecanismos que visam endurecer as regras, em caso de não cumprimento das metas por parte do governo, a nova política de valorização do salário mínimo e o Bolsa Família.

Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Cajado disse que os dispositivos foram incluídos para compensar os efeitos da desoneração dos combustíveis em 2022, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que baixaram a inflação temporariamente, afetando o cálculo do indicador este ano.

“No governo anterior, houve uma diminuição da receita pela desoneração dos combustíveis. Então, a receita que você está calculando de junho do ano passado a julho deste ano será impactada pela queda da receita. Além disso, houve uma deflação por conta dessa desoneração. Nós calculamos que isso daria os R$ 40 bilhões, que estamos acrescendo para o ano de 2024, na largada”, disse Cajado ao Estadão.

Cálculos feitos pelo ex-secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, economista da gestora ASA Investments, e mostradas na reportagem do Estadão, apontam que a medida pode fazer com que o governo ganhe uma folga de R$ 40 bilhões no primeiro ano de vigência da regra fiscal. “De uma maneira direta, é incluído na regra que a despesa em 2024 não crescerá pelo piso [0,6%], mas pelo teto. Tem aí 1,9% de crescimento das despesas que já é definido extra-regra“, afirmou.

A votação do pedido de urgência permite que a proposta seja votada diretamente no plenário da Câmara dos Deputados, na próxima quarta-feira (24), sem passar pelas comissões temáticas.

Arcabouço fiscal: dispositivo permite inclusão de crédito suplementar gerado em 2024 a partir da inflação

Outro dispositivo incluído pelo relator na proposta do arcabouço abre a segunda brecha, que permite ampliação de gastos em R$ 40 bilhões em 2025, conforme cálculos de Bittencourt. Esse dispositivo permite que, naquele ano, seja incorporado à base de gastos um crédito suplementar gerado em 2024 a partir da inflação do segundo semestre de 2023. Isso porque Cajado alterou o cálculo da inflação que vai corrigir o limite de gastos.

Conforme previsto na proposta, o novo arcabouço fiscal prevê que as despesas sejam corrigidas em 70% do aumento da arrecadação nos 12 meses encerrados em junho do ano anterior. A variação da inflação de julho a dezembro deverá ser incorporada aos gastos do governo, segundo a regra, por meio de um crédito suplementar.

Segundo Bittencourt disse ao Estadão, o texto de Cajado diz que o crédito suplementar do diferencial de inflação não pode ser incorporado ao limite despesas, com exceção de 2025. “O diferencial de inflação que será verificado entre o acumulado de 12 meses até junho deste ano e o final do ano, vai ser incorporado de maneira definitiva a partir de 2025″, explicou.

Trocando em miúdos, nas palavras do ex-secretário do Tesouro, isso representará um gasto adicional pelo segundo ano seguido, uma vez que os economistas projetam que a inflação ao fim do ano de 2023 deverá ser superior ao calculado até junho.

Por outro lado, a proposta do relator força a gestão fiscal a entregar as metas, embora os incentivos para que esse objetivo seja atingido tenha sido atenuado pelos dois dispositivos.

Porém, os cálculos dos técnicos da Câmara mostram que a ampliação de despesas na largada do arcabouço fiscal ocorreria apenas em 2024, com a incorporação dos valores extras na base. A partir daí, seriam apenas correções do valor ampliado.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e de O Estado de S.Paulo

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