Em ata do Copom, BC eleva projeção de inflação para 2023 de 4,6% para 4,8% e prevê estouro do teto da meta no ano que vem. É a conta do pacote eleitoreiro de Bolsonaro

No documento, BC diz ainda que "o aumento de gastos de forma permanente e a incerteza sobre sua trajetória a partir do próximo ano podem elevar os prêmios de risco do país e as expectativas de inflação"
1 de novembro de 2022

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá enormes desafios econômicos em seu primeiro ano de governo. Embora já fosse sabido, devido à farra eleitoreira promovida, o estrago promovido pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) nas contas públicas começa a ser desvelado, o que exigirá do futuro mandatário muito trabalho para lidar com um cenário interno e externo bastante adversos. Nesta terça-feira (1º), a ata do Copom (Comitê de Política Monetária) mostra que o Banco Central elevou de 4,6% para 4,8% a previsão para a inflação do ano que vem. Com isso, o BC passou a prever o estouro do teto de meta no próximo ano.

A meta de inflação projetada para 2023 pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) é de 3,25% e, pela margem de tolerância, será considerada cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%. Na semana passada, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 13,75% ao ano.

Trecho da ata do Copom salienta que “o ambiente externo mantém-se adverso e volátil, com revisões negativas para o crescimento global. O aperto das condições financeiras nas principais economias, a continuidade da Guerra na Ucrânia, com suas consequências sobre o fornecimento de energia para a Europa, e a manutenção da política de combate à Covid-19 na China reforçam uma perspectiva de desaceleração do crescimento global nos próximos trimestres”.

Além disso, a publicação diz que “o ambiente inflacionário segue desafiador. Observa-se uma normalização incipiente nas cadeias de suprimento e uma acomodação nos preços das principais commodities no período recente, o que deve levar a uma moderação nas pressões inflacionárias globais ligadas a bens. Por outro lado, o baixo grau de ociosidade do mercado de trabalho em algumas economias, aliado a uma inflação corrente elevada e com alto grau de difusão, sugere que pressões inflacionárias no setor de serviços podem demorar a se dissipar”.

O comitê disse ainda que fixou o nível da taxa Selic mirando na meta de inflação um pouco mais adiante, nos doze meses que se encerram no primeiro trimestre de 2024. Também voltou a indicar que manterá a taxa básica da economia em 13,75% ao ano, o maior patamar em seis anos, por um “período suficientemente prolongado” de tempo, e não afastou a possibilidade de voltar ao subi-la caso julgue necessário.

“O comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, informou o comunicado.

A interrupção do ciclo de alta, que contemplou 12 elevações seguidas na Selic, aconteceu em setembro. Foi o maior e mais longo processo de subida do juro em 23 anos.

Em ata do Copom, BC alerta para inflação, aumento dos gastos públicos e incerteza sobre trajetória das contas públicas

Ao longo da campanha eleitoral, o presidente Bolsonaro abriu a torneira dos gastos públicos para tentar se reeleger. O pacote eleitoreiro já começa a dar sinais de que vai prejudicar as contas públicas no ano que vem. Tanto que, na ata, o Banco Central voltou a alertar para o aumento de gastos públicos, que jogam uma sombra de incertezas sobre a trajetória das contas públicas a partir de 2023.

Por meio da chamada PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Kamikaze, o governo concedeu uma série de benefícios sociais às vésperas da eleição presidencial. “O Comitê avalia que o aumento de gastos de forma permanente e a incerteza sobre sua trajetória a partir do próximo ano podem elevar os prêmios de risco do país e as expectativas de inflação à medida que pressionem a demanda agregada e piorem as expectativas sobre a trajetória fiscal”, diz trecho da ata.

Além disso, o BC reiterou que o aumento de gastos pode afetar a inflação, pressionando-a, como, por exemplo, uma expansão maior do nível de atividade e no preço de ativos (como alta do dólar, por exemplo). A expectativa do governo é de que, após registrar um saldo positivo neste ano, de cerca de R$ 40 bilhões, as contas do governo sofrerão deterioração em 2023. A previsão que consta no orçamento é de um rombo de R$ 65,9 bilhões.

Ontem (31), o Relatório Focus do Banco Central, com previsões do mercado financeiro, mostra que os agentes ampliaram de 5,60% para 5,61% as projeções de inflação para este ano. É a primeira elevação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 17 semanas. A consulta inclui as perspectivas dos agentes financeiros até a sexta-feira passada (18), portanto, não refletem o resultado do segundo turno das eleições presidenciais de ontem (30), com a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Para 2023, a projeção da inflação ficou em 4,94% e, para 2024 e 2025, as previsões do Boletim Focus são de que o indicador fique em 3,50% e 3%, respectivamente.

Se esse cenário se concretizar, o presidente eleito enfrentará uma série de desafios para caber no Orçamento de 2023 promessas de campanha feitas, como o reajuste acima da inflação do salário mínimo e a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600.

Em artigo, os economistas do ICL Deborah Magagna e André Campedelli disseram que Lula terá ao menos dois grandes desafios no primeiro ano de mandato: a situação externa que caminha para uma crise econômica global e os desafios internos que precisam ser resolvidos. “No primeiro caso, será necessário atuar de forma anticíclica para reduzir os efeitos negativos que devem respingar com força na economia brasileira, enquanto no segundo caso, é preciso desfazer todos os estragos que os anos de austeridade fiscal geraram no país”.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

 

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