Na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, que reduziu a taxa básica de juros, a Selic, em 0,25 ponto percentual, para 10,50% ao ano, ficam claros os argumentos de quatro dos nove membros do colegiado que defenderam corte maior, de 0,50 p.p., da Selic. O documento foi divulgado pelo BC nesta manhã de terça-feira (14) (para ler a íntegra, clique aqui).
Votaram por uma redução de 0,50 p.p. na Selic os diretores Ailton de Aquino Santos, Gabriel Muricca Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira. Todos foram indicados na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os quatro avaliaram que houve, de fato, um “aumento das incertezas internas e externas” na economia brasileira nas últimas semanas, como apontou o restante da diretoria do colegiado.
Contudo, eles lembraram que o Copom havia indicado, em sua reunião anterior, que seria feito um novo corte de 0,50 ponto percentual, chamado de guidance no jargão técnico do mercado financeiro.
“O debate proposto por tais membros foi sobre o custo de oportunidade de não seguir o guidance vis-à-vis a mudança de cenário no período. Como em debates ocorridos em outras reuniões, tais membros discutiram se o cenário prospectivo divergiu significativamente do que era esperado a ponto de valer o custo reputacional de não seguir o guidance, o que poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do Comitê. Para tais membros, julgou-se apropriado, tal como em reuniões anteriores, seguir o guidance, mas reafirmando o firme compromisso com a meta e com a requerida taxa de juros terminal para que o objetivo precípuo do Comitê de convergência da inflação para a meta seja alcançado”, diz trecho da ata.
Isso significa que os diretores que votaram por um corte maior chamaram a atenção basicamente para um aspecto, sobre o qual agentes do mercado também trataram quando saiu a decisão.
O guidance é uma sinalização que o Copom dá ao mercado sobre os passos da autoridade monetária. E o que se viu foram mudanças de rota no meio do caminho, o que pode gerar desconfianças nos agentes, como indicou os quatro membros a favor de seguir o documento.
Já o grupo que votou pelo corte de 0,25 p.p. avaliou que “o forward guidance indicado na reunião anterior sempre foi condicional e houve alteração no cenário em relação ao que se esperava” e que “o eventual custo reputacional de não seguir um guidance, mesmo que condicional, é o risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação e com a ancoragem das expectativas. À luz do que foi analisado, tais membros consideraram que uma redução de 0,25 ponto percentual era mais apropriada para o atingimento da inflação na meta no horizonte relevante”.
Apesar da discordância sobre o guidance, ata do Copom mostra convergência de opiniões sobre cenários
De modo geral, no entanto, os diretores têm opiniões convergentes sobre o cenário para inflação nos próximos anos, que “se tornou mais desafiador, com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas em uma taxa de juros mais elevada”.
Segundo a ata da reunião, diante da análise de dados, “concluiu-se unanimemente pela necessidade de uma política monetária [definição dos juros] mais contracionista e mais cautelosa, de modo a reforçar a dinâmica desinflacionária”.
Em outro trecho, a ata também enfatiza aquilo que já estava no comunicado mais curto divulgado com a decisão: a falta de indicação sobre os próximos passos da condução da política monetária.
“Todos os membros concordaram que a adoção de uma política monetária mais contracionista, mais cautelosa e sem indicações futuras sobre os próximos movimentos mostrava-se mais apropriada diante do cenário global incerto e do cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas“, diz o trecho.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias