A balança de pagamentos do Brasil do mês de maio mostra que subiu de US$ 23,5 bilhões para US$ 32,9 bilhões o déficit na conta de transações correntes no acumulado de 12 meses, conforme relatório divulgado pelo Banco Central na última sexta-feira (26). O valor representa 1,89% do PIB (Produto Interno Bruto). O saldo foi resultado de um déficit de US$ 3,5 bilhões em maio, ante os US$ 2,5 bilhões apontados no mesmo período do ano passado.
As informações foram compiladas pelos economistas do ICL Deborah Magagna e André Campedelli, no “Economia para Todos – Boletim Diário de Notícias Econômicas e Atualização do Mercado”, divulgado hoje (29).
De acordo com os economistas, além do saldo da balança comercial ter sido menor, “ocorreram déficits na conta de serviços, o que elevou a saída de capital de forma mais contundente em maio do que nos meses anteriores”.
Na avaliação deles, a conta de transações correntes, observada de forma desagregada, mostrou os principais motivos pelo aumento do déficit em maio. Ao mesmo tempo em que o saldo da balança comercial foi menor em maio de 2022 ante o registrado em 2021, ocorreram maiores saídas de capitais nas contas mais importantes da balança de serviços, como foram os casos dos transportes, com saída de US$ 821 milhões ante uma saída de US$ 307 milhões no ano anterior; aluguel de equipamentos, com saída de US$ 602 milhões no mês; e de viagens, com saldo negativo de US$ 718 milhões em maio.
“O saldo negativo mais preocupante foi o decorrente da considerável elevação das remessas de lucros ao exterior, de US$ 4,2 bilhões em maio, enquanto havia sido US$ 2,03 bilhões no mesmo período do ano anterior. A única conta importante a apresentar um saldo menos negativo foi o de pagamento de juros, que registrou US$ 711 milhões em maio, enquanto no mesmo período do ano anterior havia registrado um saldo de US$ 1,45 bilhões”, disseram.
Saldo na conta de capitais da balança de pagamentos mostra aumento do ingresso de investimento externo
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Variação acumulada do saldo do investimento direto no país
Por outro lado, na conta de capitais ocorreu aumento da entrada de investimento direto no país, com um registro de US$ 4,5 bilhões em maio, resultando num saldo acumulado em 12 meses de US$ 60 bilhões. O montante é equivalente a 3,45% do PIB.
“A maior parte da entrada de capitais foi em investimentos em carteira, que registrou uma entrada de US$ 3,9 bilhões, ou seja, grande parte não foi de fato um investimento produtivo, mas sim compra de ações e de entrada em fundos de investimento de agentes estrangeiros no mercado de capitais brasileiro”, disseram os economistas.
As reservas internacionais, por sua vez, voltaram a crescer neste mês, com aumento de US$ 1,6 bilhões entre o saldo de abril e maio de 2022. Isso fez com que as reservas internacionais brasileiras chegassem a US$ 346,4 bilhões em maio. O resultado decorreu da elevada entrada de capitais na conta e pela baixa utilização de reservas no controle cambial durante o mês de maio.
De acordo com Deborah e André, diferentemente do ocorrido em outros meses, o saldo das transações correntes teve seu déficit elevado, o que apontou para um problema já corriqueiro na balança de pagamentos. “Porém, devido à elevada entrada de capitais via investimento direto estrangeiro, foi possível elevar a quantidade de reservas internacionais. Mas novamente o que se vê é um baixo percentual de entrada de capital produtivo e com grande parte desse capital entrando para a compra de ativos financeiros, que muitas vezes são utilizados com o intuito somente de especulação”, apontaram.
O fato é que, devido às condições incertas do cenário global, o Brasil vem atraindo cada vez mais esse tipo de capital, o que pode ser bom no curto prazo, mas não sustenta um investimento de longo prazo na economia brasileira.
Redação ICL Economia
Com informações do Economia para Todos – Boletim Diário de Notícias Econômicas e Atualização do Mercado