Inflação alta faz com que bancos centrais de diferentes países aumentem a taxa de juros, com riscos de recessão global

Banco Central, de diferentes países, não tem previsão para que o ciclo de aperto monetário chegue ao fim
9 de setembro de 2022

Bancos centrais devem seguir com aumento da taxa de juros. Na quinta (8), o Banco Central Europeu elevou os juros em 75 pontos-base, confirmando as projeções da maioria dos economistas. A alta, sem precedentes, promete pelos bancos centrais deve se repetir nas próximas reuniões da autoridade monetária. “Ao longo das próximas reuniões, o Conselho do BCE espera aumentar ainda mais as taxas de juros para diminuir a demanda e se proteger contra o risco de uma persistente mudança para cima nas expectativas de inflação”, disse o comunicado do BCE. Para o economista do ICL, André Campedelli,  a inflação em alta e a queda do Produto Interno Bruto (PIB) representam um perigo. “É uma situação complicada, pois já temos um sinal amarelo ligando nos Estados Unidos e também na Europa. Isso significa que pode vir uma turbulência mundial aí”, afirma.

A mensagem foi reforçada pela presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, em coletiva de imprensa após a decisão. Além da perspectiva de inflação elevada, que deve levar a novas altas de juros, Lagarde chamou atenção para a desaceleração da economia europeia, com um cenário de menor demanda global. Uma disrupção no fornecimento de gás, com o corte de abastecimento pela Rússia, é outro agravante, tanto do ponto de vista de alta de preços como de queda na demanda.

Lagarde disse que a inflação europeia está se espalhando por uma gama de itens, incluindo em serviços. Sobre a magnitude da próxima alta, a presidente do BCE afirmou que “não será necessariamente de 75 pontos-base”. Analistas, por outro lado, acham difícil haver uma desaceleração no ritmo de aperto monetário agora.

A sinalização de Lagarde é que os juros continuem subindo por pelo menos mais dois encontros. Não há expectativa de que a inflação na Europa se reaproxime da meta nos próximos três meses. A tendência, segundo a presidente do BCE, é que os juros cheguem em breve a um patamar neutro. Contudo, não há previsão para que o ciclo de aperto monetário chegue ao fim. “A taxa de juros terminal é desconhecida”, afirmou Lagarde.

Na avaliação de analistas, o discurso de Lagarde deu a entender que a taxa de juros ainda está bem longe de fazer com que a inflação retorne à meta. Para alguns, há a expectativa de que o BCE eleve as taxas em 50 pontos-base em sua próxima reunião e continue aumentando as taxas em dezembro e fevereiro de 2023 em 25 pontos-base em cada encontro. A intenção é desacelerar o crescimento da demanda e do emprego para reduzir a inflação para sua meta.

 

Política de bancos centrais de elevar juros pode ser empecilho para o crescimento econômico

Banco Central , FED

Crédito: Envato

Durante discurso, na quinta-feira (8), o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, continuou sem indicar a magnitude da próxima alta de juros nos Estados Unidos. O próximo encontro do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) está marcado para os dias 20 e 21 deste mês. Nesta data, o monitor de juros do CME Group mostra que 86% das apostas apontam para um ajuste de 75 pontos base, levando a taxa para um intervalo entre 3% e 3,25%.

A fala de Powell, segundo analistas, serviu para ajudar a esclarecer a visão da autoridade monetária sobre os últimos dados do mercado de trabalho americano. O payroll divulgado na última sexta-feira (2) indicou a criação de 315 mil vagas em agosto, mas um aumento na taxa de desemprego, para 3,7%. “No relatório mais recente do mercado de trabalho, vimos um bem-vindo aumento da participação da força de trabalho”, disse Powell durante o evento do qual participou na quinta (8).

“Powell ressaltou que o mercado de trabalho está forte, diferente da reação do mercado ao último payroll, em que vimos uma parte apontando que o desemprego subiu. Acho que o mercado de trabalho forte dificulta a chance de uma alta de 50 pontos-base na próxima reunião do Fed”, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

Um outro destaque na fala de Powell diz respeito ao risco de uma recessão. O presidente do Fed afirmou que é possível subir juros evitando impactos sociais muito altos. Na última vez em que o Federal Reserve uma inflação tão alta como a atual, no início dos anos 1980, a autoridade monetária elevou a taxa para a casa dos dois dígitos, provocando recessão e desemprego. “A inflação pode ser domada sem custos sociais muito altos”, disse Powell.

Como de costume, o chairman reforçou o compromisso primordial do Fed em reduzir a inflação. “Mas de forma geral, ele deixou em aberto as possibilidades para a próxima reunião. O mercado vai se posicionar mesmo é com a inflação de agosto. Até lá segue essa volatilidade”, afirmou Cruz. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) será divulgado na próxima terça-feira (13).

Na última segunda-feira (5), em evento em São Paulo, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, afirmou que a batalha contra a inflação não está ganha e ainda não há previsão de cortes de juros no Brasil. E afirmou que a taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano, poderá sofrer um ajuste final na reunião deste mês de setembro.

“A gente entende que tem que passar mensagem dura. A mensagem de hoje é a mesma do último Copom. Aproveitamos eventos como esse para nos manifestar e a mensagem que continua valendo hoje é a do último Copom, que a gente disse que avaliaria um possível ajuste final”, disse Campos Neto.

O aceno do presidente do BC para uma continuidade do aperto monetário destoou das expectativas anteriores do mercado, que já viam possibilidade de uma desaceleração dos juros com a recente deflação de preços, o que levou a um ajuste das projeções na sessão seguinte. Mas Campos Neto fez ressalvas, mostrando preocupações com a retomada de impostos federais sobre combustíveis em 2023, assim como o futuro do Auxílio Brasil. Além disso, afirmou que muito do processo de alta de juros já realizado ainda não fez efeito.

Na opinião de alguns analistas, apesar do Banco Central no Brasil brasileiro ter iniciada a subida da taxa de juro primeiro, quanto mais agressivo for o aperto monetário nos países desenvolvidos, maiores as chances de deslocamento do fluxo de capitais para os países desenvolvidos, dificultando o início do movimento de queda da Selic no Brasil no curto prazo.

Na avaliação dos economistas do ICL André Campedelli e Deborah Magagna, o governo brasileiro já poderia ter tomado medidas no sentido de minimizar a situação, evitando os constantes ajustes da Selic para cima. “A única coisa que o Copom ainda faz é persistir na elevação da taxa Selic como mecanismo de controle das possíveis elevações de demanda, sob justificativa de que isso se faz necessário para corrigir possíveis riscos fiscais. O aumento da Selic  pelo Copom é mais um empecilho para o crescimento econômico e torna frágil a atividade econômica brasileira”, asseguram.

A despeito da atual indicação de queda inflacionária, a economia segue estagnada e com baixo desempenho. Portanto, o aumento da Selic pelo Copom reduzirá ainda mais o ritmo da economia, o que significa um desempenho preocupante para os próximos meses de 2022. “A alta da taxa de juro pelo Copom reduz a atividade econômica do país. O efeito disso, para o controle inflacionário, deve ser muito baixo”, pondera Campedelli.

No final do ano passado, o BC australiano dizia que os juros só deveriam subir a partir de 2024. Na última terça-feira, a taxa foi elevada em mais 50 pontos base, para 2,35% ao ano. O comitê espera aumentar ainda mais a taxa, mas afirma que não há um caminho pré-determinado. O BC australiano já elevou os juros por cinco vezes consecutivas, em um total de 2,25 pontos percentuais. E, neste mês, o presidente do Banco Central da Austrália, Philip Lowe, surpreendeu com um sinal de desaceleração de juros no país. Durante um discurso sobre perspectivas para a economia americana, nesta quinta-feira (8), Lowe afirmou que mais altas serão necessárias para conter a inflação. No entanto, admitiu que a taxa já subiu de forma considerável e muito rápida.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

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