Bolsonaro não desiste de CPI da Petrobras. Conselheira diz que ele trata a estatal como “time de futebol de bairro”

Para que Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) seja instalada na Câmara são necessárias 171 assinaturas de parlamentares
21 de junho de 2022

O presidente Jair Bolsonaro continua insistindo na instalação de uma CPI da Petrobras para investigar a empresa e os aumentos nos preços dos combustíveis.

Nesta segunda-feira (20), Bolsonaro, falando diretamente a apoiadores, declarou que a alta do preço dos combustíveis é “um abuso”. “Eu estou acertando uma CPI da Petrobras. ‘Ah, você que indicou o presidente’. Sim, mas eu quero uma CPI. Por que não? Se não deve nada, investiga o cara”, disse.

“Bolsonaro finalmente conseguiu achar um culpado imaginário para sua base mais fiel. (…) uma grande empresa, que atua no seu imaginário para prejudicar sua presidência. Uma empresa que na visão da sua base está atuando para evitar que Bolsonaro tenha sucesso. É um inimigo perfeito. Então, finalmente a base agora tem um culpado para a inflação que assola atualmente todos os brasileiros, a Petrobras. Essa estaria atuando de forma deliberada, de maneira política, aumentando o combustível para gerar inflação e elevar a margem de lucro em benefício próprio, não ligando para as mazelas do povo brasileiro”, explicam os economistas do ICL André Campedelli e Deborah Magagna, em recente artigo.

Também nesta segunda-feira (20), o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), reuniu-se com líderes de partidos aliados ao governo para discutir o pedido de CPI da Petrobras. Também esteve presente na reunião o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Segundo as agências de notícias, Lira cobrou do governo federal e do Ministério da Economia que se envolvam mais diretamente nas discussões para a CPI da Petrobras. Pediu, por exemplo, que o governo resolva algumas questões infraconstitucionais por meio de medidas provisórias que alterem, por exemplo, a Lei das Estatais e que têm aplicação imediata, em vez de aguardar a tramitação de projetos de lei.

Após a reunião, o líder do PL, Altineu Côrtes (RJ), afirmou que já está recolhendo assinaturas para viabilizar a abertura da Comissão. A CPI da Petrobras só pode ser instalada com a adesão de, no mínimo, um terço do total de integrantes da Câmara dos Deputados, ou seja, 171 assinaturas.

Jorge Mizael, comentarista de política do ICL Notícias, apurou que nesta terça (21) acontecerá novo encontro entre Arthur Lira e os mais de 20 líderes partidários. Será um almoço na residência oficial do presidente da Câmara e “obviamente, por conta do momento, o assunto será o aumento no preço dos combustíveis e, mais especificamente, o apoio à CPI da Petrobras”.

Oposição diz que CPI da Petrobras é “balão de ensaio” e “cortina de fumaça”

Também nesta segunda-feira (20), a oposição ao governo no Senado se reuniu para tratar dos próximos passos referentes ao preço dos combustíveis. O PT avaliou que o pedido de criação de uma CPI foi um “balão de ensaio” para forçar a queda do presidente da Petrobras.

Neste mesmo sentido, o deputado Glauber Braga, em entrevista ao ICL Notícias (segunda, 20), afirmou que Bolsonaro e seus aliados usam da estratégia chamada “cortiça de fumaça”, ou seja, enviam alguma proposta ao Congresso, em que possam fazer o discurso público favorável aos interesses da população, mas, junto com a proposta, está “algo que é muito impopular e que eles estão tentando esconder”.

O líder da minoria no Senado, Jean Paul Prates (PT-RN), disse em nota que, caso a CPI seja realmente instalada, os parlamentares da oposição irão trabalhar para investigar muito além dos os malfeitos e apontar os “malfeitos desse governo na gestão da Petrobras que privilegia unicamente os acionistas e esquece do principal motivo de existência de uma empresa que é o consumidor”.

Para os economistas Campedelli e Magagna, a grande verdade é que se existe alguém com capacidade de mudar a situação, da alta dos combustíveis no país, é Bolsonaro. “O governo federal, como acionista majoritário da Petrobras, é responsável por escolher 6 das 11 cadeiras do conselho administrativo, que determina os reajustes. Além disso, é responsável pela escolha do presidente”.

Bolsonaro e Lira falam que nada podem fazer e que é a empresa que determina o reajuste, mas não é bem assim a situação. “Caso ambos tivessem vontade de mudar de fato a situação, eles poderiam mudar a forma como a empresa precifica os combustíveis, seja via os membros do conselho administrativo, seja por meio do presidente da estatal”, explicam os economistas.

Nesta segunda-feira (20), o presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, deixou o cargo após 68 dias no cargo, devido a pressões do governo Bolsonaro. Agora, a Petrobras passou a ser comandada, interinamente, pelo atual diretor executivo de Exploração e Produção da companhia, Fernando Borges.

De acordo com o comunicado da Petrobras, protocolado junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Borges ficará no comando da companhia até que seja eleito e empossado um novo presidente na estatal.

Conselheira diz que Bolsonaro trata Petrobras como “time de futebol de bairro”

A conselheira da Petrobras representante dos empregados, Rosângela Buzanelli, criticou no seu Blog a pressão feita pelo governo para tirar o agora ex-presidente José Mauro Coelho do cargo. Ela classificou a ação do governo como desrespeitosa e disse que o presidente Jair Bolsonaro trata a Petrobras como um “time de futebol de bairro”.

Rosângela Buzanelli lembra que não é a primeira vez que Bolsonaro trata mal um presidente da estatal quando deseja sua demissão. Desta vez, porém, a proximidade das eleições foi um ingrediente a mais que levou inclusive a agressões pelas redes sociais.

“A proximidade do pleito eleitoral, que imprimiu pressões de toda sorte para provocar a renúncia, inclusive nas redes sociais onde um esquadrão de fanáticos (ou robôs?) estimulados pelo discurso presidencial imprimiu o tom da violência, ódio e intimidação, característicos desse público”, afirmou a conselheira.

Redação ICL Economia
Com informações das agências

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