Sob o governo Lula 3, a economia do Brasil tem registrado bons números. Além do avanço de 1,4% do PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre do ano, o desemprego está no menor patamar desde 2012. Ainda assim, pesquisas mostram que os brasileiros têm uma percepção negativa da economia. Inflação dos últimos anos, fake news, polarização política e notícias enviesadas publicadas pela mídia – como a do crescimento do PIB – podem ter a ver com isso.
Os dados positivos do crescimento da economia brasileira foram impulsionados, principalmente, pelo setor industrial e ocorreram a despeito das enchentes no Rio Grande do Sul, em maio.
Na semana passada, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que a taxa de desemprego no trimestre de maio a julho recuou para 6,8%, com 7,4 milhões de desocupados. Este é o menor nível de desemprego registrado para o período desde o início da série histórica do instituto, em 2012.
Diante das repetidas surpresas positivas na atividade, economistas têm revisado para cima suas projeções para o PIB de 2024.
Porém, a melhora nos indicadores econômicos parece não ter atingido a percepção das pessoas. A pesquisa AtlasIntel mais recente (28/8) mostrou, por exemplo, que para 47% dos entrevistados a situação atual da economia é ruim, contra 33% que consideram boa. Outros 21% acham que a situação econômica está “normal”.
O resultado é similar à pesquisa divulgada pela Genial/Quaest em julho, que mostrou que para 36% dos entrevistados a economia do Brasil piorou nos últimos 12 meses, ante 28% que avaliam que melhorou e 32% que dizem que ficou igual.
O economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, já comentou o resultado dessas pesquisas, ao avaliar que elas trazem influência do bolsonarismo, pois boa parte dos que avaliam negativamente estão na ala dos evangélicos, grupo no qual se concentra grande parte dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) (veja a avaliação clicando aqui).
Para especialistas, inflação alta dos últimos anos pode estar por detrás da percepção negativa da economia do Brasil por parte dos brasileiros
Em participação na reportagem da BBC News Brasil, Rodolfo Margato, vice-presidente de pesquisa econômica da XP Investimentos, apontou que a resposta pode estar na inflação. No ano, segundo o IBGE divulgou no início deste mês, o IPCA acumula alta de 2,87% e, nos últimos 12 meses, de 4,50%, acima dos 4,23% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.
A observação faz sentido, uma vez que 63% dos entrevistados na pesquisa Genial/Quaest de julho avaliavam que o poder de compra dos brasileiros é hoje menor do que um ano atrás, contra 21% que diziam ser maior e 14% que consideravam igual.
“É verdade que a inflação corrente está relativamente bem comportada, ainda que a nossa projeção seja de 4,4% para [o IPCA, índice oficial de inflação do país] esse ano, mas nos últimos anos a inflação foi alta, especialmente após o choque da pandemia”, disse o economista da XP.
“Períodos de inflação alta acabam diminuindo o poder de compra das famílias e, mesmo com uma recuperação nos períodos seguintes, aquelas marcas da inflação alta ficam”, completou.
Para a pesquisadora Silvia Matos, do Ibre-FGV, embora emprego e renda estejam crescendo, muitos dos empregos que estão sendo criados não são de qualidade – o que fica evidente pela taxa de informalidade da economia brasileira ainda próxima a 40% – vale ressaltar que muito disso fruto da reforma trabalhista de Michel Temer.
“Empregos e salários crescem, mas parece que não crescem o tanto que as pessoas esperariam, e há também muita volatilidade de renda entre informais e trabalhadores por conta própria”, disse.
“Há um certo desencantamento, que leva as pessoas a quererem soluções mágicas, porque parte da sociedade tem uma frustração, mesmo com o crescimento”, enfatizou.
Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria, fez uma observação que converge com a de Eduardo Moreira. Segundo ele, essa percepção também ocorre em outros países, como nos Estados Unidos, devido, principalmente, à polarização política e, também, com a prevalência das redes sociais como principal forma de a população se informar atualmente.
“A radicalização alimenta leituras muito distintas em relação ao desempenho do governo e dos eventos políticos. Então, a despeito do desempenho do governo na economia, há uma rejeição pessoal ao presidente Lula que dificulta essa transmissão entre melhoria do crescimento econômico e popularidade”, disse.
Com as redes sociais, as pessoas acabam consumindo produtos e informações para reafirmar suas leituras do mundo, segundo o cientista político, o que é reforçado pelo algoritmo e faz com que a ideia de livre informação vá perdendo força.
“A política da rede social é a política encurtada – a pessoa não vê o debate, ela vê o corte – e aí esse arsenal de informação que chega na cabeça do eleitor nem sempre ajuda a entender a relação de causalidade que é chave para a ideia de premiar [os governantes] pelo bom desempenho do governo. As redes sociais são perversas nesse sentido”, frisou.
Redação ICL Economia
Com informações da BBC News Brasil