O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu ontem (3) o início da transição na Presidência da autarquia antes do término de seu mandato, em 31 de dezembro deste ano. Durante participação em evento do Bradesco BBI, em São Paulo, ele defendeu que a sabatina do novo mandatário da autarquia seja feita ainda este ano.
“Seria bom fazer a sabatina este ano. Se um diretor for presidente interino, ele tem que passar por sabatina também”, disse o economista. A lei da autonomia do BC, porém, não esclarece os passos do procedimento sucessório.
Na última terça-feira (2), no mesmo evento, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo vai ouvir o Banco Central no processo de transição de comando na autarquia.
Haddad afirmou que já teve conversas com Campos Neto sobre o momento ideal em que deve ser anunciado o sucessor de Campos Neto, que será indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
”Vamos ouvir o Banco Central sobre essa transição, sobre como fazer, e essa transição vai ser muito diferente da de 2022 para 2023″, declarou Haddad, referindo-se à transição da Presidência da República.
Segundo o ministro, as relações com o BC foram comprometidas pela ausência da administração anterior, do ex-presidente Jair Bolsonaro, durante a transição entre os governos. ”O Executivo sumiu, tirou férias. A transição foi, a rigor, feita pelo Legislativo […] Esta questão do Banco Central foi prejudicada por uma tensão que respingou em tudo”, lembrou Haddad. “Isso tudo foi vencido”, afirmou o ministro.
Ele afirmou que buscou institucionalizar a relação da Fazenda com o BC, e que hoje tem uma ótima relação com Campos Neto, independentemente das diferenças de ideias.
Campos Neto teria pedido que novo mandatário da autarquia seja escolhido entre outubro e novembro
De acordo com informações da Folha de S.Paulo, Campos Neto teria pedido a Haddad que a escolha de seu sucessor ocorra entre outubro e novembro, para que haja tempo hábil de o indicado ser sabatinado no Congresso antes do recesso de fim de ano.
Durante a participação no evento Bradesco BBI, Campos Neto afirmou que vai fazer uma “transição mais suave possível” para o próximo presidente, em alusão à passagem do governo Bolsonaro para o governo Lula, que foi bastante conturbada depois que Jair Bolsonaro fugiu para os Estados Unidos para não passar a faixa presidencial ao petista.
“Essa coisa de você mudar de um governo para outro, onde o governo que entra fala mal do outro e a gente tem uma transição que não é civilizada, é muito ruim. Eu sempre digo que eu prefiro discutir ideias do que pessoas. Então, nesse sentido, eu vou fazer a transição mais suave possível”, disse o presidente do BC.
As apostas do mercado são de que o próximo presidente do BC seja Gabriel Galípolo, hoje diretor de política monetária da autarquia, após atuar como número dois do ministério da Fazenda durante o início do governo Lula 3.
Galípolo é homem de confiança de Lula e Haddad, no entanto, desperta em parte do mercado financeiro insegurança em relação à trajetória da Selic.
O presidente Lula tem feito críticas a Campos Neto, indicado ao cargo por Jair Bolsonaro), por considerar que ele mantém a taxa Selic desnecessariamente alta.
No evento de que participou ontem, Campos Neto abordou o aspecto importante de sua função: “A coisa mais importante para quem se senta na cadeira hoje é ter a firmeza de dizer não quando for necessário. E vai ser necessário sempre, em algum momento, porque os ciclos são diferentes, os desejos vão ser diferentes, os entendimentos sobre o que é bom vão ser diferentes. Então é importante ter firmeza de dizer não e explicar para dentro e para fora”, disse o economista.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo e de O Estado de S.Paulo