O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, parece mesmo descolado da realidade da economia brasileira. A despeito dos bons dados macroeconômicos registrados recentemente, ele disse ontem (24), durante participação em evento em São Paulo, que o Brasil “parece” crescer acima do seu PIB potencial, o que indica a capacidade de um país em expandir sua economia sem impactar a inflação.
“Quando a gente olha o hiato, parece que o Brasil está crescendo acimado do potencial na margem”, disse durante o Brazil Conference 2024, em São Paulo.
Segundo informações da CNN, Campos Neto pontuou que o “quadro todo” da inflação no país preocupa o BC, com o crescimento da economia acima do esperado e a “mão de obra” apertada.
Como sempre dizem os os economistas e apresentadores do ICL Mercado e Investimentos, Deborah Magagna e André Campedelli, notícia boa na economia brasileira sempre vira notícia ruim para a Faria Lima, com a apoio da grande mídia e o discurso contrário ao Brasil de Campos Neto.
“De novo, a narrativa continua sendo a mesma: o Brasil está crescendo acima do esperado, mais do que o seu potencial. Acabei de ver uma matéria [reportagem] agora falando que o potencial de crescimento do Brasil sem gerar inflação é de 2%. Meu Deus, gente! Então a gente está fadado a ter ‘pibinho’, a ter PIBs muito baixos para o resto da vida, pois se a gente consegue crescer acima de 2% vai gerar inflação?”, criticou André Campedelli na edição do último dia (16) do programa.
Tanto Deborah quanto André salientam que esse discurso funciona como uma espécie de pressão do mercado financeiro sobre o Copom (Comitê de Política Monetária) para que suba a taxa básica de juros, a Selic, o que é bom para o capital especulativo.
No segundo trimestre, o PIB brasileiro avançou 1,4%, o maior dos países do G20 (fórum das 19 maiores economias do mundo, mais União Africana e União Europeia), o que fez com o Ministério da Fazenda revisasse para 3,2% a projeção de crescimento da economia brasileira este ano.
Além disso, o desemprego segue caindo e, nesta quarta-feira (25), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o IPCA-15, a prévia da inflação oficial, ficou em 0,13% em setembro, após taxa de 0,19% registrada em agosto.
Em agosto o país registrou deflação e Campos Neto e o Copom, de modo geral, seguem a narrativa de preocupação com a inflação.
Por outro lado, Campos Neto reconhece crescimento de “melhor qualidade” da economia
Feitas todas as ponderações possíveis, o presidente da autoridade monetária brasileira, cujo mandato termina em 31 de dezembro (para o lugar dele, foi indicado Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária), reconheceu o PIB do segundo trimestre mostrou um crescimento de “melhor qualidade”, com alta da formação bruta de capital fixo.
Para ele, o crescimento maior, por mais que potencialmente gere mais inflação, é “uma notícia muito boa”, especialmente por vir acompanhado de uma alta na formação bruta de capital.
“O número foi, qualitativamente, um pouco melhor. O consumo das famílias segue forte e o mercado de trabalho também”, disse Campos Neto.
Sobre o impacto da baixa taxa de desemprego sobre os preços, ele disse que “ainda não há certeza sobre esta influência”, mas que “há indício de que este é um fator que restritivo”.
Ainda sobre inflação, o presidente do BC destacou preocupação do banco com a seca que atinge o Brasil, com impactos nos preços de alimentos e energia. Mapeamentos mostram que a condição atinge regiões produtivas do agro.
Corte de gastos
O presidente do Banco Central disse ainda acreditar que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai cortar gastos para se adequar às metas fiscais para os próximos anos.
“O próprio arcabouço força uma diminuição de gasto fiscal. O quanto [será cortado] não nos arriscamos a colocar, mas entendemos que haverá uma desaceleração de gastos. E isso já está nas nossas projeções”, disse.
Na ata da última reunião do Copom, divulgada nesta terça, o comitê disse que espera um efeito positivo da desaceleração de gastos no combate à inflação.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias