O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central deve anunciar, nesta quarta-feira (19), o encerramento do ciclo de afrouxamento monetário e manter a taxa Selic em 10,50% ao ano.
Muito mais do que a decisão, já esperada pelo mercado, a expectativa é sobre os votos dos membros do colegiado, em especial o de Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do BC indicado pelo governo Lula e cotado para assumir a presidência da autoridade monetária no lugar de Roberto Campos Neto, cujo mandato termina em 31 de dezembro deste ano.
Na última reunião, houve uma cisão nos votos dos membros do colegiado. De um lado, os cinco indicados pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – incluindo Campos Neto -, que votaram por um corte menor da taxa básica de juros (0,25 ponto percentual), que acabou vencendo. De outro, os quatro indicador por Lula, que queriam um corte maior.
Outro elemento que ganhou os holofotes ontem (19) foram as críticas corretas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Campos Neto, que tem tido um comportamento muito mais político do que técnico nos últimos meses, algo que não coaduna com a posição que ocupa.
“Só temos uma coisa desajustada neste país: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Presidente que tem lado político, que trabalha para prejudicar o país. Não tem explicação a taxa de juros estar como está”, declarou Lula em entrevista à Rádio CBN.
Lula afirmou ainda que o Brasil não pode continuar com juros “proibitivos”, que inibam os investimentos produtivos, o crescimento do país e a geração de empregos. E ele está certo, conforme comprovam os últimos indicadores econômicos, com inflação sob controle, PIB (Produto Interno Bruto) avançando e desemprego caindo.
Ao fim e ao cabo, as declarações não tiveram o impacto esperado na Bolsa brasileira. O Ibovespa acabou fechando com alta de 0,41%. Por outro lado, o dólar à vista fechou cotado a R$ 5,4342, com alta de 0,23%
No meio do caminho da Selic, tem o Boletim Focus
Porém, o mercado financeiro tem elevado as projeções de inflação, conforme mostra o Boletim Focus, publicação do BC baseada em entrevistas com 150 analistas de instituições financeiras.
Embalados pelas recentes falas de Campos Neto em eventos nos quais tem participado dentro e fora do país, os analistas têm elevado as projeções de inflação. A propósito disso, o Ministério Público junto ao TCU (Tribunal de Contas da União) ingressou com uma representação para “identificar eventuais desvios de finalidade pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na definição da taxa Selic”.
O subprocurador-geral Lucas Furtado incluiu no documento notícia do portal ICL Notícias tratando do assunto (“ICL protocola no Banco Central pedido de informações sobre Relatório Focus“).
O economista e fundador do ICL, Eduardo Moreira, fez um escrutínio no Boletim Focus e detectou que há votantes que turbinam a expectativa de inflação para fazer com que a mediana final suba. O ICL ingressou com pedido de LAI (Lei de Acesso à Informação) para averiguar os autores dessas projeções máximas e quais instituições representam.
Embora salientem certa piora fiscal no cenário doméstico, agentes econômicos também reforçam que contribui para uma política de juros mais conservadora no país a demora do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) de iniciar as reduções dos juros nos Estados Unidos.
Isso contribui para diminuir o espaço para cortes no Brasil, devido às pressões cambiais por aqui – e, portanto, na inflação -, além de contribuir para afugentar investidores na Bolsa brasileira, que preferem destinar recursos aos Estados Unidos, mercado considerado o mais seguro do mundo, ainda que os juros pagos lá (entre 5,25% e 5,50% ao ano) seja cerca de metade do pago pelo governo brasileiro.
Comunicação do Copom
Muito mais do que a já esperada decisão, o mercado estará atento ao comunicado do Copom divulgado com a decisão.
O que os especialistas aguardam para o anúncio de hoje é o de uma decisão consensual, com unanimidade de votos. Isso deverá servir para reduzir os ruídos gerados na última reunião, quando o voto pela redução do ritmo de cortes de 0,50 ponto percentual para 0,25 p.p. prevaleceu por uma maioria de 5 a 4.
Ainda que uma divergência de leituras e opiniões pudesse ser considerada normal, a informação de que todos os quatro diretores indicados pelo governo Lula formaram a ponta mais “suave” do colegiado acendeu um alerta sobre o futuro da política monetária a partir de 2025, quando a ala “governista” passaria a ter maioria de 7 votos a 2. Mas a ata da última reunião do Copom mostrou que a postura deles foi técnica e nada política.
Mas, na avaliação de analistas, o BC precisará, hoje, passar uma mensagem inequívoca de que a busca de uma inflação na meta continuará na próxima gestão da autoridade monetária.
Ao InfoMoney, Luis Otavio Leal, economista chefe do G5 Partners, disse que a diretoria do BC vem buscando um discurso mais comum desde o ruído da decisão anterior, e que isso foi visto em várias falas tanto de Campos Neto como dos diretores Paulo Picchetti e Gabriel Galípolo.
“Se eu tivesse que apostar no resultado, o mais provável seria a manutenção com consenso. Mais do que mostrar uma unicidade de pensamento, é uma unicidade no conservadorismo do BC, da política monetária. Essa demonstração é extremamente importante num momento em que o futuro do BC está em jogo”, disse.
Sobre as decisões futuras, Leal lembrou que o BC “se amarrou” num discurso difícil de sair de que não é preciso apenas que a inflação convirja para a meta, mas que as expectativas também o façam.
Redação ICL Economia
Com informações do g1 e do InfoMoney