Copom deve elevar a taxa básica de juros a 13,75% ao ano nesta quarta. Resta dúvida se a escalada vai parar

Para economistas do ICL, o governo brasileiro já poderia ter tomado medidas no sentido de minimizar a situação
3 de agosto de 2022

O Copom (Comitê de Política Monetária) deve elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual nesta quarta-feira (3), para 13,75% ao ano, trazendo enorme impacto nos investimentos e na vida das pessoas, uma vez que juros altos representam crédito caro e perda do poder de compra das famílias. Mas o indicador mais importante da reunião da autoridade monetária é saber se a escalada dos juros vai parar ou não, devido às perspectivas de queda nos índices inflacionários.

Até março de 2021, a Selic permanecia em 2% ao ano, mas, naquele mês, iniciou a trajetória do Copom de alta chegando aos atuais 13,25% anual. A elevação de hoje representa o 12º aumento consecutivo na taxa, que alcançará o maior patamar desde novembro de 2016, quando estava em 14% ao ano.

A expectativa do mercado é de que, após o aumento que será anunciado hoje, o Copom permaneça com a Selic no mesmo nível até maio de 2023, quando deve começar a cair. A previsão é que a Selic termine o próximo ano em 10,5% ao ano.

Na avaliação dos economistas do ICL André Campedelli e Deborah Magagna, o governo brasileiro já poderia ter tomado medidas no sentido de minimizar a situação, evitando os constantes ajustes da Selic para cima. “A única coisa que o Copom ainda faz é persistir na elevação da taxa Selic como mecanismo de controle das possíveis elevações de demanda, sob justificativa de que isso se faz necessário para corrigir possíveis riscos fiscais. O aumento da Selic  pelo Copom será mais um empecilho para o crescimento econômico e vai debilitar ainda mais a já frágil atividade econômica brasileira”, asseguram.

A despeito da atual indicação de queda inflacionária, a economia segue estagnada e com baixo desempenho. Portanto, o aumento da Selic pelo Copom reduzirá ainda mais o ritmo da economia, o que significa um desempenho preocupante para os próximos meses de 2022. “A alta da taxa de juro pelo Copom vai reduzir a atividade econômica do país e, talvez, aumentar a entrada de dívidas estrangeiras no Brasil. O efeito disso, para o controle inflacionário, deve ser muito baixo”, pondera Campedelli.

Uma prova disso é que, ontem (2), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou o resultado da produção industrial brasileira, que apontou recuo de 0,4% em junho frente a maio, e de 0,5% em relação a junho de 2021.

Nos seis primeiros meses do ano, o setor acumula baixa de 2,2% e, em 12 meses, de -2,8%, o que, para Campedelli, é um indicador de “péssimo sinal”.

“(A indústria) caiu basicamente em todas as métricas, seja em comparação com o mês anterior, com o mesmo período do ano passado, no acumulado no ano e no acumulado em 12 meses. Isso é um péssimo sinal para o ritmo de atividade econômica, mesmo sendo considerada o elo mais fraco do crescimento econômico de 2022. Ainda assim, é esperado um aumento de produção industrial para este ano, que ajude o PIB a ter um desempenho melhor do que era anteriormente esperado”, avalia.

Copom: aumento da Selic é remédio amargo para controle da inflação

O aumento da taxa básica de juros tem sido um mecanismo utilizado pela autoridade monetária para controlar a inflação. Para analistas, optar por uma dose adicional de juros em setembro ocorre diante da deterioração de expectativas da inflação para 2023, cuja meta é de 3,25%, podendo oscilar entre 1,75% e 4,75%.

Para este ano, a meta central de inflação é de 3,5% e será oficialmente cumprida se o indicador oscilar de 2% a 5%. Porém, o mercado financeiro projeta inflação de 7,15% para 2022, ou seja, bem acima da meta. Se confirmado, será o segundo ano seguido de estouro da meta de inflação.

A ideia do Banco Central (BC) neste momento é ajustar a taxa Selic para o controle da inflação no ano que vem, pois as decisões sobre juros demoram de seis a 18 meses para terem efeito sobre a economia. Mas, na semana passada, o mercado estimou que a meta será novamente superada no próximo ano. A projeção é de que a inflação atinja 5,33%.

A mudança de prognósticos decorre principalmente porque o Congresso aprovou desoneração fiscal sobre itens essenciais, como combustíveis e energia elétrica, este ano – medida eleitoreira do governo federal adotada a poucos meses do pleito de outubro. Portanto, no ano que vem, o retorno da cobrança desses tributos deve pressionar os índices inflacionários.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

 

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