Desabastecimento de diesel no país implicaria em mais inflação e queda no PIB

O produtor será forçado a repassar os custos para o restante da cadeia resultando em aumento da inflação
13 de junho de 2022

A economia do Brasil pode ser bastante afetada de forma negativa se o desabastecimento de diesel ocorrer nos próximos meses, com prejuízos à produção de comida, à exportação de grãos e refletir em alta da inflação e queda no PIB (Produto Interno Bruto).

O alerta para o desabastecimento de diesel foi feito ao MME (Ministério de Minas e Energia) pela Petrobras em maio e foi repetido na última quarta-feira (8). A estatal defende que, para garantir a oferta do diesel no país, é necessário o alinhamento dos preços praticados internamente com os do exterior. Hoje, há uma defasagem. O governo quer segurar os valores dos combustíveis de olho na reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Por outro lado, não quer mudar a política de preços e desagradar os acionistas.

Os importadores diminuíram o ritmo de compra do petróleo no exterior devido ao congelamento do preço do diesel vendido pela Petrobras, que torna a venda do derivado pouco ou nada atrativa comercialmente.

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) vem alertando que o Brasil corre o risco de desabastecimento de diesel no início do segundo semestre deste ano, em função da prevista escassez de oferta no mercado internacional e do baixo nível dos estoques mundiais. Segundo a FUP, a dependência pelo produto importado revela o equívoco da política do governo Bolsonaro, que não criou novas refinarias, reduziu investimentos no setor do refino e decidiu vender unidades da Petrobras, o que pode gerar o desabastecimento de diesel .

Apesar de ser autossuficiente na produção de petróleo, o Brasil importa atualmente cerca de 25% de suas necessidades de diesel no mercado interno, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP), devido à baixa utilização das refinarias brasileiras e a não conclusão de obras importantes no setor.

A principal preocupação com um possível desabastecimento de diesel está no transporte da safra de grãos das áreas produtoras para os portos do país, colocando em risco a safra de 2022/2023 de alimentos em geral, mas, principalmente, de soja e milho — dois produtos que são destaques na pauta exportadora nacional. Isso porque o transporte mais utilizado para escoar os produtos no país é o viário, por meio de caminhões, como o uso do diesel.

Outra ameaça ainda ligada ao setor de produção de alimentos está no transporte dos insumos agrícolas – fertilizantes, sementes e defensivos -, que chegam do exterior pelos portos e têm que ser transportados, por caminhões, até as fazendas produtoras.

Desabastecimento de diesel levará produtor a repassar custos ao consumidor

Em entrevista ao UOL, o professor Carlos Antônio Moreira Leite, do Departamento de Economia Rural da UFV (Universidade Federal de Viçosa), explicou que, se houver desabastecimento, pode ocorrer interrupção de rotas e também a possibilidade do preço do diesel disparar, em razão da oferta restrita.

Em resumo, o produtor será forçado a repassar os custos de obter insumos para o restante da cadeia, e o resultado seria aumento da inflação.

Outro economista ouvido pela reportagem do UOL destaca que, caso ocorra o desabastecimento de diesel, haveria também um impacto sobre o crescimento do PIB. William Baghdassarian, professor de finanças do Ibmec em Brasília, explica que o consumo de diesel e a atividade econômica estão muito relacionados e “se faltar diesel, haverá um impacto de desaceleração do PIB”.

A Petrobras reconhece que o risco de desabastecimento de diesel seria maior para as regiões Norte e no Nordeste, que são mais dependentes da importação de combustível.

A explicação é que o Nordeste tem hoje três refinarias produtoras de diesel: Abreu e Lima, em Pernambuco; Potiguar Clara Camarão, no Rio Grande do Norte; e Mataripe, na Bahia. Já o Norte tem uma refinaria: Isaac Sabbá, no Amazonas. Em comparação, há quatro refinarias produtoras de diesel só no estado de São Paulo.

 

Redação ICL Economia
Com informações do UOL e das agências

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