Desmatamento no Brasil: Amazônia em pé vale sete vezes mais do que o lucro obtido por meio da exploração, aponta estudo

Segundo Marek Hanusch, Amazônia em pé vale sete vezes mais do que o lucro que pode ser obtido por meio da exploração econômica da região
12 de junho de 2023

O desmatamento no Brasil está na fórmula com que o país conduz a sua economia. Mas essa visão é extremamente equivocada, segundo o economista líder do Banco Mundial, Marek Hanusch. Para ele, se o Brasil mantivesse a floresta em pé, o crescimento econômico seria bem maior. “O desmatamento está inserido no modelo de crescimento do país. No entanto, (esse modelo) não proporcionará um crescimento significativo enquanto ele destruir o capital natural”, disse ao jornal O Estado de S.Paulo.

Ele é autor de um estudo que aponta que a Amazônia em pé vale sete vezes mais do que o lucro que pode ser obtido por meio da exploração econômica da região. Segundo Hanusch, o Brasil cresce majoritariamente por intermédio da acumulação de mão de obra, capital e terra, o que significa expansão da fronteira agrícola por meio de desmatamento.

Recentemente, o Banco Mundial defendeu que a revisão do modelo de crescimento da Amazônia possibilitará maior proteção da floresta e da biodiversidade. O documento “Equilíbrio Delicado Para a Amazônia Legal Brasileira: Um Memorando Econômico” aponta que o desmatamento na região está atrelado a atividades como a pecuária, a ampliação da fronteira agrícola e a mineração. Segundo a publicação, o incremento do desmatamento poderia levar a floresta a um ponto em que não seria mais possível reverter seus efeitos nocivos.

O economista líder do banco sugeriu que, se o Brasil reduzir o desmatamento, poderá aumentar seu crescimento econômico e sua produtividade. “Um país que cresce usando seus recursos de forma mais eficiente não precisará expandir a fronteira agrícola para as florestas.”

Na opinião dele, o país tem sua economia basicamente dependente de commodities e do agronegócio, e deveria dar mais atenção à indústria, serviços e os setores mais urbanos. “É importante para impulsionar o crescimento, gerar empregos e reduzir a pressão por terras no arco do desmatamento”, observou.

Hanush ainda pontuou que o país deveria adotar uma governança florestal eficaz, além de meios de subsistência rurais sustentáveis por meio da bioeconomia e o financiamento da conservação das florestas, alavancando o valor dos bens públicos da Amazônia.

Também apontou para a necessidade de políticas públicas para interromper o desmatamento ilegal, pontuando que “salvar a Amazônia é uma obrigação econômica e moral tanto para o setor privado quanto para o setor público”, e que o papel dos povos originários é fundamental nesse sentido. “Isso é um forte argumento para designar terras públicas não designadas como territórios indígenas, o que reduzirá a grilagem.”

Desmatamento no Brasil: Cerrado atinge novo recorde de desmatamento em maio e no acumulado do ano

Enquanto o Congresso passa a boiada, aprovando o marco temporal, que representa um verdadeiro genocídio dos povos originários (o julgamento do tema está sendo feito pelo Supremo Tribunal Federal também), e desidratando as pastas do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas na medida provisória que muda a estrutura do governo federal, o Cerrado brasileiro já atingiu um novo recorde de desmatamento, tanto no mês de maio quanto no acumulado do ano.

Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que, entre janeiro e maio deste ano, foram desmatados mais de 3.320 km² do bioma, um aumento de 27% em relação ao mesmo período do ano passado. Para efeito de comparação, esse território desmatado nos primeiros cinco meses de 2023 equivale a quase duas vezes a área total da cidade de São Paulo.

Em 2022, o bioma já havia registrado a maior taxa de desmatamento em sete anos: foram 10.689 km², segundo os dados oficiais divulgados pelo Prodes Cerrado, programa de monitoramento do Inpe.

Ao todo, 110 milhões de hectares do bioma (49% do total) já foram destruídos para dar lugar ao cultivo extensivo de commodities agrícolas, principalmente soja, milho, cana-de-açúcar e algodão, além de extração de matérias-primas voltadas à produção industrial.

Na Amazônia Legal, ao contrário, o desmatamento caiu 31% na comparação com o mesmo período do ano passado. Foram 1.986 km² de área desmatada entre janeiro e maio. Em termos absolutos, esse total representa quase metade do que foi registrado no Cerrado, sendo que a floresta no norte do Brasil tem quase o dobro da área da região savânica.

“O Cerrado é o bioma mais ameaçado do Brasil e talvez um dos mais ameaçados do mundo”, disse Yuri Salmona, geólogo e diretor-executivo do Instituto Cerrados, à BBC News.

Segundo o pesquisador, é no período entre maio e junho que costumam ser registradas as maiores taxas de desmatamento no Cerrado, por conta do clima. “Ainda estamos entrando nesse período, o que significa que podemos esperar números ainda piores nos próximos meses.”

Redação ICL Economia
Com informações de O Estado de S.Paulo e BBC News

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