Eduardo Moreira avalia que pesquisa Genial/Quaest sobre o governo Lula mostra que mercado financeiro funciona como ‘seita’

Os 82 executivos e economistas de fundos de investimentos se mostraram muito pessimistas com o futuro da economia brasileira, a despeito de todos os esforços do governo Lula na defesa de pautas defendidas pelo mercado, como a reforma tributária
16 de março de 2023

Uma pesquisa on-line da Genial/Quaest, feita com 82 executivos e economistas do mercado financeiro, mostra que 98% dos entrevistados acreditam que a política econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está indo na direção errada. Para o economista e fundador do ICL, Eduardo Moreira, a pesquisa revela muito mais a respeito do mercado do que do governo petista. “Isso não é opinião, é dogma. Não existe nenhum grupo que você vá pegar, de faculdade progressista, donos de empresas… em qualquer grupo da sociedade você vai ter opiniões pendendo mais para um lado do que para o outro, vai ter 70% a favor, 30% contra, porque as pessoas param, refletem e respondem”, criticou Moreira, para quem isso reflete que os indivíduos do mercado financeiro se comportam como se integrassem uma “seita”.

A consulta foi realizada de 10 e 13 de março e envolveu executivos e economistas de fundos de investimentos com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em relação ao futuro do país, só 6% acham que a economia vai melhorar nos próximos 12 meses, enquanto 78% consideram que haverá piora. Outros 16% falam que o cenário deve permanecer do mesmo jeito.

Esse pensamento destoa do que pensa a população. No mês passado, outra pesquisa da Genial/Quaest, feita em território nacional, mostrou que 62% das pessoas acreditavam na melhora da economia, contra só 20% que esperavam piora.

Que o mercado financeiro não morre de amores pelo governo Lula, isso não é novidade. Em seu primeiro mandato como presidente, em 2003, o petista teve que escrever uma Carta ao Povo Brasileiro, mostrando que manteria a responsabilidade na gestão das contas públicas e assim o fez. Contudo, nem isso aplacou os ânimos.

Agora, o mercado se ressente devido às críticas do petista e de sua equipe econômica em relação ao atual patamar da taxa básica de juros (Selic), em 13,75% ao ano, situação que engessa a possibilidade de crescimento em um país que recebeu uma bomba no colo deixada pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Na opinião de Eduardo Moreira, o resultado da pesquisa é “incrível”, pois mostra como o “tal mercado é desprovido da capacidade de pensar por conta própria”. Ele, que já trabalhou por 20 anos em mesas de operações no mercado financeiro, sabe o que o mercado é capaz de fazer com seus indivíduos. “O mercado emburrece os seus indivíduos. E nada mostra mais o emburrecimento e a superficialidade intelectual do mercado como essa pesquisa”, disse.

Pesquisa da Genial/Quaest mostra o quanto o mercado é descolado do pensamento do povo brasileiro

Genial/Quest

Crédito: Reprodução ICL Notícias

Para mostrar o quanto o pensamento do mercado financeiro segue descolado da realidade brasileira e, muitas vezes, dele próprio, o fundador do ICL comparou duas pesquisas.

Questionados sobre se foi acertada a decisão de manter a taxa básica de juros (Selic) no atual patamar (13,75% ao ano), 95% dos economistas e executivos dizem que a decisão foi certa, enquanto 5% acreditam que foi errada.

Por outro lado, a outra pesquisa feita nacionalmente pela Genial/Quaest mostra que 76% da população acham que Lula acertou ao querer forçar a queda da taxa de juros.  Outros 16% disseram que não e 8% responderam que não sabiam.

“Se numa população 3 em cada 4 pessoas acham que o governo tem que pressionar e 95% de um grupo diz que BC está certo, [então podemos considerar que] é uma seita, não pensa, não considera duas opções, não reflete o que quer dizer”, observou Moreira.

Outra pergunta feita pela pesquisa reflete que os indivíduos do mercado não se entendem com seu próprio pensamento. Quando questionados sobre se concordavam ou não com a indicação do BC de que poderá manter a Selic no atual patamar até o fim do ano, 72% concordaram e 28% discordaram.

Ao mesmo tempo, quando questionados sobre qual a estimativa deles para a Selic até o fim de 2023, 59% disseram que será menor que 13%; 9%, que será igual 13%; e 32% maior que 13%.

Para Eduardo Moreira, essa resposta “não tem lógica nenhuma” quando comparada à resposta da questão anterior. “Não importa a pergunta, o que importa é concordar com o Banco Central”, disse.

Respostas refletem má vontade do mercado com o governo

As impressões do fundador do ICL são confirmadas por outra pergunta. Quando questionados sobre o grau de confiabilidade em nomes do governo e o presidente do BC, Roberto Campos Neto, o nome deste último aparece disparado.

As autoridades mais confiáveis, segundo a pesquisa, são o vice-presidente Geraldo Alckmin (5% confiam e 57% não confiam), a ministra do Planejamento, Simone Tebet (4% confiam e 45% não confiam), e o presidente do Banco Central (68% confiam e 2% não confiam).

Em outra ponta, só 1% dos executivos dizem confiar “muito” em Fernando Haddad (Fazenda), enquanto 66% declararam confiar “pouco ou nada” no ministro e outros 33% afirmam confiar “mais ou menos” nele. Os percentuais são melhores que os de Lula (94% dizem não confiar no presidente), os do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante (98% não confiam), e os do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates (85% não confiam).

Ainda em relação ao BC, 90% dos entrevistados acham a relação do governo petista com a autoridade monetária negativa, 9% acham regular e 1%, positiva.

Questionados sobre o que acham do governo Lula, 90% disseram ser negativo e zero acha positivo. De novo, o outro levantamento feito com a população mostra que 20% consideram o mandato do petista, que ainda não completou 100 dias, negativo.

“Zero positivo. De novo, não faz sentido. Temos a Simone Tebet [Planejamento e Orçamento] dizendo que fez a lição de casa para o BC baixar os juros. Tem o Haddad fazendo todos os esforços necessários para se aproximar do empresariado, do mercado financeiro, indo à conferencia da [banco] BTG para discurssar para as pessoas. Zero é seita”, disse Moreira.

Isso reflete, segundo o economista, a má vontade do mercado financeiro com o governo Lula, que tem feito esforços, na pessoa do ministro Haddad, para tocar pautas defendidas pelo próprio mercado, como a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal que vai substituir o teto de gastos.

Na pergunta, “como você avalia o Ministério da Fazenda Haddad”, apenas 10% o consideram positivo; 52%, regular, e 38%, negativo.

“Isso revela o seguinte: não adianta querer agradar o mercado. Não adianta querer fazer as pazes com o mercado, não adianta querer fazer reunião com donos de bancos. Eles são sedutores e dão a impressão de que se você fizer só mais isso, eles vão gostar de você. Mas se você for muito esforçado em ser uma pessoa que constrói essas pontes, que se preocupa com cada palavra que vai dizer, se você for amigo desse monstro, sabe qual o prêmio que ele vai te dar? A medalha de regular”, frisou.

Redação ICL Economia
Com informações do ICL Notícias e O Globo

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