Esta semana, o mercado financeiro aguarda pela “super quarta” (15), quando os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos decidem sobre as taxas de juros. O adjetivo de “super” ganha contornos ainda mais importantes em um momento em que a inflação assusta consumidores e investidores das bolsas em todo o mundo.
No entanto, as atenções do mercado para as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central e do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve estão mais concentradas nos comunicados que serão divulgadas após os encontros do que propriamente nas taxas de juros. Isso porque há um consenso entre os analistas de que, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, os juros devem subir 0,5 ponto percentual – aposta que é reforçada pelas decisões tomadas entre maio e junho.
A justificativa dada pelos bancos centrais dos EUA e do Brasil é de que a alta da taxa básica de juro é uma importante iniciativa para o combate inflacionário, mas sem dimensionar as implicações desta alta, que pode diminuir ainda mais a atividade econômica e aumentar o desemprego.
Na avaliação do economista do ICL André Campedelli, no Brasil, com a economia estagnada, sem formação de emprego e com baixo desempenho na atividade econômica, agravado pela alta da inflação, o aumento da Selic (taxa básica de juros) reduzirá ainda mais o ritmo da economia, o que significa um desempenho preocupante para os próximos meses de 2022. “A alta da taxa de juro vai reduzir a atividade econômica do país e, talvez, aumentar a entrada de dívidas estrangeiras no Brasil. O efeito disso, para o controle inflacionário, deve ser muito baixo”, diz Campedelli.
Com a alta de juros, os consumidores também tendem a gastar menos e têm mais dificuldade em quitar dívidas, principalmente pela dificuldade em conseguir crédito e parcelamentos. No momento, mais de mais de 70% dos brasileiros têm alguma dívida, de acordo com a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência.
Além disso, com a mudança na Selic, os juros ficam mais altos e dificultam o crédito para empresas investirem em expansões ou novas fábricas. Com o desestímulo ao consumo, as empresas também adiam expansões e contratações, impactando nos números do desemprego.
O Copom começou a subir a Selic em março de 2021 e, mais de um ano depois e com um recorde de 10 altas seguidas, a taxa saltou de 2% para 12,75% ao ano.
Analistas do mercado acreditam que a elevação da taxa no Brasil deve continuar aumentando, passando os juros para 13,25% ao ano. A grande incógnita para a “super quarta” é se o Copom irá sinalizar outra alta em agosto.
Outro temor apontado pelo mercado está em um possível descontrole fiscal e desrespeito ao teto de gastos pelo governo. Isso devido ao plano do governo federal de isentar impostos sobre combustíveis e compensar financeiramente estados. O impacto nas contas públicas pode chegar a R$ 40 bilhões.
As decisões do Fed na “super quarta”
Nos EUA, o ciclo atual de elevação de juros começou em março deste ano e, desde então, os juros subiram do intervalo de 0% a 0,25% para 0,75% e 1% ao ano.
O Fed já sinalizou que pretende subir os juros em 0,5 p.p. tanto em junho quanto em julho. Então, as atenções do mercado para esta “super quarta” estão nas possíveis atualizações dessas projeções, englobando a reunião de setembro.
Para o economista André Campedelli, o efeito colateral do juro mais alto na economia norte-americana é preocupante por contagiar a economia global como um todo.
A mudança nos Estados Unidos, por exemplo, pode atrapalhar ainda mais o crescimento da economia no Brasil, sendo que as projeções de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano estão em apenas 1,2% de acordo com o último Relatório Focus.
A fuga de capitais dos investidores estrangeiros no Brasil para investimentos nos Estados Unidos, atrelado à alta de juros lá, pode prejudicar também a performance da bolsa e os planos das companhias brasileiras. Com menos investidores, cai a valorização das ações no mercado brasileiro, adiando projetos.
Redação ICL
Com informações das agências