Pesquisa feita pelo economista e professor emérito da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), João Saboia, mostra que o desemprego, a inflação e o endividamento das famílias afetaram mais duramente os estados do Nordeste. A Bahia é o estado do país onde o Índice de Miséria Regional é o mais alto: 89,9 pontos. Em seguida, no índice de Miséria, aparece Pernambuco, com 83 pontos. Na sequência, está o Ceará, com 81,9 pontos. O índice sobre a miséria foi calculado para todos os estados nos quais há estatística local de inflação. Na média brasileira, o indicador é de 65,3, o maior da série histórica iniciada em 2012.
João Saboia explica que o Índice de Miséria é uma boa forma de entender o mal-estar dos brasileiros com a economia. Vale ressaltar que, mesmo que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostre que o PIB (Produto Interno Bruto) está crescendo, a sensação de mal-estar com relação à economia persiste entre os brasileiros. E essa não é apenas uma impressão, já que o indicador está aumentando.
Economistas costumam usar como referência a soma das taxas de desemprego e de inflação como a chamada Taxa de Miséria. No estudo do Índice de Miséria no Brasil, Saboia acrescentou outros indicadores, como inadimplência, que limita o acesso ao crédito para o consumo. E também a desigualdade de renda entre os mais ricos e os mais pobres.
Os estados do Nordeste já entraram na pandemia abatidos pela recessão anterior, entre 2015 e 2016, com a pobreza aumentando. De acordo com o Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco, a economia do Nordeste é pouco dinâmica e sofreu muito com a recessão e com a atual política econômica. A pandemia veio e já encontrou muito emprego informal, desalento e aumento da insegurança alimentar.
A renda baixa nesses estados é uma das principais explicações para o desempenho ruim no indicador. Em Pernambuco, o rendimento médio per capita dos 20% mais pobres era de R$ 90 mensais, na Bahia, R$ 102,50, no Pará, R$ 121, enquanto a média do país ficou em R$ 187,50 no ano passado.
Há grande diferença do índice de miséria entre os estados do Brasil, mostrando dois “Brasis”: do Norte/Nordeste e o do Sul/Sudeste
Há grande diferença de pontuação do Índice de Miséria entre os estados no Brasil. Os índices da Bahia, Pernambuco, Ceará e Pará são sistematicamente maiores do que a média nacional, enquanto os demais estão abaixo da média, consta no estudo que é feito em coautoria com João Hallak Neto, do Conselho Regional de Economia do Rio.
Quatro estados têm resultado pior que a média do Brasil, três do Nordeste e um do Norte. Com resultado melhor que a média estão os estados do Sul e Sudeste e o Distrito Federal, que, em termos socioeconômicos, são mais desenvolvidos, explica Saboia em reportagem publicada no jornal O Globo.
A falta de dinamismo econômico é uma das razões para a taxa de desemprego na Bahia chegar a 21% no auge da pandemia. Atualmente, está em 16,7%, mas sempre é a maior ou está entre as maiores ao longo dos trimestres, segundo a coordenação do grupo de pesquisa em Economia do Trabalho da Universidade Federal da Bahia.
As recessões, como a que veio como efeito da pandemia, sempre intensificam as desigualdades preexistentes. A estrutura produtiva dos estados mais vulneráveis não tem capacidade de absorver sua força de trabalho. São poucos empregos formais. Por isso, há uma parcela muito grande de emprego informal nessas regiões.
A maior parte das vagas formais no país (70%) estão concentradas no Sul e Sudeste. As melhores pontuações, pelo estudo, estão no Rio Grande do Sul, 41,1, e no Distrito Federal (40), que exibem resultado perto da metade dos registrados nos estados do Nordeste.
Para todos os estados incluídos no estudo, o índice de 2021 é o maior, o que indica o impacto da pandemia em meio a uma já instalada desestruturação econômica. Representantes do Departamento de Economia da Universidade Federal da Paraíba mencionam a inflação, com os preços dos alimentos acima da média brasileira, como outra causa. A universidade acompanha os preços de carne bovina, leite, feijão, arroz, farinha de mandioca, tomate, pão francês, café, açúcar, banana prata e nanica, óleo de soja e manteiga em João Pessoa. Hoje, essa cesta custa R$ 562,50, 25% mais cara que em janeiro de 2021.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias