Os olhos dos agentes dos mercados financeiros mundiais estão todos voltados para os Estados Unidos nesta quarta-feira (21). O Fed (Federal Reserve) anunciará, nesta tarde, a nova taxa básica de juros da economia americana, e qualquer espirro na maior economia do mundo tem a capacidade de espraiar-se para todo o globo. Diante de uma inflação que teima não arrefecer na economia, a expectativa é de que a autoridade monetária do país eleve a taxa básica em 0,75 ponto percentual, mas há quem aposte em um aumento de 1 ponto percentual.
Além da elevação da taxa em si, os agentes financeiros estarão atentos ao comunicado divulgado juntamente com o anúncio da taxa, o qual pode sinalizar se o aperto monetário continuará para além de setembro ou não. Ao lado disso, o presidente do Fed, Jerome Powell, dará uma entrevista coletiva ainda hoje, fato que também tem agitado os mercados, que começaram entre perdas e ganhos nesta quarta-feira.
No fim de agosto, no simpósio de bancos centrais em Jackson Hole, nos EUA, Powell sinalizou que o ciclo de alta deve permanecer, pois a economia americana continua superaquecida, com inflação e emprego em alta. Na ocasião, o presidente do Fed prometeu agir a todo custo para controlar a inflação do país, a maior em mais de 40 anos.
Se o Fed anunciar o reajuste para cima em 75 pontos base, esta será a terceira alta consecutiva nesse patamar. Além do Fed, bancos centrais no restante do mundo devem seguir com aumento da taxa de juros. Em 8 de setembro, o BCE (Banco Central Europeu) elevou os juros em 0,75 ponto percentual, confirmando as projeções da maioria dos economistas. A alta, sem precedentes, deve se repetir nas próximas reuniões da autoridade monetária europeia, conforme sinalizado no comunicado divulgado na sequência do anúncio.
O economista do ICL, André Campedelli, avaliou que a inflação em alta e a queda do PIB (Produto Interno Bruto) no mundo representam um perigo para a economia global. “É uma situação complicada, pois já temos um sinal amarelo ligando nos Estados Unidos e também na Europa. Isso significa que pode vir uma turbulência mundial aí”, afirmou na ocasião.
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse em entrevista coletiva à época do anúncio que, além da perspectiva de inflação elevada, que deve levar a novas altas de juros, há desaceleração da economia europeia com um cenário de menor demanda global. Uma disrupção no fornecimento de gás, com o corte de abastecimento pela Rússia, é outro agravante, tanto do ponto de vista de alta de preços como de queda na demanda.
Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro passado, a Europa tem enfrentado uma grave crise energética, a qual já tem impactado no custo de vida da população e a produção industrial. Com o anúncio ontem (20) do presidente da Rússia, Vladimir Putin, chamando a população para uma escalada militar contra a Ucrânia mais a o reajuste para cima da taxa básica de juros dos EUA, a situação pode piorar.
Outro acontecimento amanhã (22) deve dar à economia mundial uma dose adicional de emoção com a reunião do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), em encontro adiado da semana passada por conta morte da rainha Elizabeth II.
Além da decisão sobre taxa de juros da economia americana, mercado estará de olhos em outros sinais importantes
Os agentes do mercado financeiro também aguardam com ansiedade o famoso dot-plotd, gráfico divulgado trimestralmente e que traz as projeções individuais dos formuladores de política monetária, de forma anônima, para o crescimento econômico, o emprego e a inflação, assim como o cronograma de aumentos de juros.
Na última atualização divulgada, em junho, o gráfico de pontos mostrava uma taxa mediana no final de 2022 em 3,4%. Isso implicava em 170 pontos base adicionais nas taxas. Para 2023, a taxa mediana dos Fed Funds era de até 3,8%, um aumento de 40 pontos base em relação ao final de 2022. A expectativa é que essas medianas sejam ajustadas para cima.
Como já dito, outro foco importante desta quarta-feira será na entrevista que o presidente do Fed concederá logo após o anúncio, devido aos sinais que serão dados – a duração da tendência de alta e o tamanho da taxa do fim do ciclo.
Na semana passada, o Departamento do Trabalho informou que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,1% em agosto, quando a projeção apontava para uma deflação de 0,1%. Mais grave que o indicador geral, o núcleo do CPI, que exclui preços voláteis como alimentos e energia, subiu 0,6% na comparação mensal, o dobro dos 0,3% previstos.
Por essa razão, há quem acredite que o ciclo de alta deve ser prorrogado para além de setembro. Economistas do Goldman Sachs também estimam que, além de uma alta de 0,75% hoje, haverá outras duas elevações de 0,50% cada, em novembro e dezembro, reduzindo o ritmo no início de 2023.
Redação ICL Economia
Com informações dos portais InfoMoney e O Estado de S.Paulo