Antes de sabatina no Senado para diretoria do Banco Central, Galípolo renuncia a cargo no conselho do BB

Expectativa é de que Gabriel Galípolo, no comando da área de fiscalização do Banco Central (BC), promova a harmonização entre política fiscal e monetária. Crescem as apostas de que ele pode ser sucessor de Roberto Campos Neto à frente da autarquia
4 de julho de 2023

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) vai sabatinar, nesta terça-feira (4), o economista Gabriel Muricca Galípolo e o advogado Ailton de Aquino Santos. Eles foram indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a diretoria do Banco Central do Brasil (BC). As sabatinas devem começar após o fim da reunião deliberativa do colegiado, marcada para 8h30.

Ontem (3), Galípolo renunciou ao seu cargo no Conselho de Administração do Banco do Brasil, para o qual havia sido escolhido em maio deste ano. 

A indicação de Galípolo ao Senado foi encaminhada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 16 de maio, em um momento em que o presidente e a equipe econômica têm criticado a postura da autoridade monetária de não baixar a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,75% ao ano.

Desde a indicação de Galípolo para a vaga no BC, o nome dele começou a ser ventilado como um possível substituto de Roberto Campos Neto na presidência de autarquia. Nomeado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o mandato de Campos Neto termina em 31 de dezembro de 2024.  

Professor universitário, Galípolo foi indicado para ocupar a diretoria de Política Monetária do Banco Central, em substituição a Bruno Serra Fernandes. Galípolo é secretário-executivo do Ministério da Fazenda, sendo considerado o braço direito do ministro Fernando Haddad. O relator da indicação é o senador Otto Alencar (PSD-BA).

De acordo com seu currículo, Galípolo já trabalhou no Centro Brasileiro de Relações Internacionais, na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e no Banco Fator. Ocupou também a chefia das secretarias de Economia e de Transportes no governo de São Paulo. É graduado em economia e tem mestrado em economia política.

Ao ser indicado para comandar a área de fiscalização do BC, Gabriel Galípolo tem dito que vai promover a “harmonização entre política fiscal e monetária”. O próprio presidente Lula confia em Galípolo, principalmente no que diz respeito ao processo de redução da taxa básica de juros.

Galípolo tem bom relacionamento com empresários e executivos do mercado financeiro. Economistas ditos tradicionais dizem que ele é um “heterodoxo light“, um representante mais moderno da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), referência entre os centros acadêmicos à esquerda.

Diretor de Política Monetária do Banco Central também é responsável pelo sistema Selic

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Crédito: divulgação / Senado Federal

Entre as tarefas do diretor de Política Monetária estão: gestão das reservas internacionais; cuidar da mesa de câmbio, que faz intervenção no mercado à vista; gerir o sistema Selic, garantindo que o juro fique na taxa definida; auxiliar o Tesouro Nacional nos leilões de títulos.

O economista Luiz Fernando Figueiredo explicou para a reportagem da Folha de S Paulo que não conhece Galípolo, mas, por experiência, acredita que, no fim, ele terá um alinhamento com o Copom (Comitê de Política Monetária). 

Segundo a Folha de S Paulo, Galípolo costuma debater temas controversos entre duas vertentes econômicas. De um lado, os ortodoxos, economistas alinhados ao mainstream, cujo pensamento dominante é normalmente baseado em modelos estatísticos. De outro, os heterodoxos, que propõem uma visão mais empírica e socioeconômica dos fenômenos. Galípolo está mais alinhado ao segundo grupo.

Recentemente, uma de sua lives foi resgatada e postada no Twitter pelo economista Alexandre Schwartsman. No trecho, o jornalista Luiz Nassif lembra que o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, havia demitido o presidente do BC logo após a instituição elevar os juros, e pergunta se o gesto teria potencial de “efeito demonstração” para o Brasil.

Era março de 2021, o BC do Brasil acabara de iniciar o ciclo de elevação da taxa básica de juros, da mínima histórica de 2% para 2,75%. O citado era o terceiro presidente de BC turco demitido por desagradar Erdogan, um autocrata de direita.

Galípolo não discute a demissão, mas desenvolve a ideia de que o presidente turco tinha razão num ponto: a elevação dos juros em uma economia atingida por crises e recessões, no meio da pandemia de Covid-19, não combatia, mas aumentava a inflação. Schwartsman qualifica como temerária a declaração.

Galípolo participou de diversas lives e mostrou um conhecimento amplo, que vai muito além do mercado. Discutiu lógica com Newton da Costa, impressionou André Lara Resende com seu conhecimento de política monetária, além do domínio sobre operações de mercado e PPPs (Parcerias Público-Privadas).

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S Paulo, Agência Senado e agências de notícias

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