No tão aguardado discurso esperado pelo mercado financeiro, nesta manhã de sexta-feira (23), o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), Jerome Powell, confirmou o que todos queriam ouvir: ele disse que “chegou a hora” de o BC estadunidense cortar a taxa de juros, uma vez que os riscos crescentes para o mercado de trabalho não deixam espaço para mais fraqueza e a inflação está a caminho de alcançar meta de 2%, oferecendo um apoio explícito para o afrouxamento da política monetária.
“Os riscos de alta para a inflação diminuíram. E os riscos de queda para o emprego aumentaram”, disse Powell em discurso no simpósio anual do Fed de Kansas City em Jackson Hole, no estado norte-americano de Wyoming.
“Chegou a hora de ajustar a política. A direção a ser seguida é clara, e o momento e o ritmo dos cortes nos juros dependerão dos dados que chegarem, da evolução das perspectivas e do equilíbrio dos riscos”, complementou o Chairman da autoridade monetária estadunidense.
Powell disse que sua “confiança cresceu de que a inflação está em um caminho sustentável de volta para 2%”, depois de ter subido para cerca de 7% durante a pandemia da Covid-19, enquanto o desemprego está aumentando.
A taxa de desemprego é uma das variáveis olhadas bem de perto pela autoridade monetária para baixar os juros. Isso porque um mercado de trabalho aquecido significa uma economia forte o suficiente para manter a inflação pressionada. Juros mais altos, conforme a tese das economias neoliberais, ajudam a controlar a inflação.
A atual taxa de desemprego de 4,3% está próxima do nível que as autoridades do Fed consideram compatível com uma inflação estável no longo prazo.
“Não buscamos nem recebemos bem um maior esfriamento das condições do mercado de trabalho”, disse Powell. “Faremos tudo o que pudermos para apoiar um mercado de trabalho forte à medida que progredimos em direção à estabilidade de preços. Com uma redução apropriada da restrição da política monetária, há boas razões para pensar que a economia voltará a ter uma inflação de 2%, mantendo um mercado de trabalho forte.”
O que discurso de Jerome Powell tem a ver com o Brasil e o restante do mundo. Bolsa sobe e dólar cai
O simpósio de Jackson Hole reúne a nata do mercado financeiro mundial. O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, vai participar do encontro e deve falar amanhã (24), último dia do evento.
O discurso de Powell era aguardadíssimo, pois, em setembro próximo, o Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, na tradução) do Fed faz sua próxima reunião para decidir sobre a taxa de juros, atualmente em uma banda de 5,25% a 5,50% anual.
Para se ter uma ideia do poder do discurso do presidente de BC mais poderoso do mundo, a Bolsa brasileira subia e o dólar caía neste início de tarde.
Como os ativos norte-americanos são considerados os mais seguros do mundo, manter as taxas de juros nesse patamar faz com que investidores destinem seus recursos para investimentos nos EUA.
A sinalização de cortes dos juros por lá significa mais dinheiro circulando pelo mundo, em mercados emergentes como o brasileiro. Recentemente, a Bolsa brasileira, a B3, bateu recordes atrás de recordes surfando nessa onda otimista sobre os cortes de juros nos EUA.
Obviamente, não é só isso. A economia brasileira também vai bem, com inflação sob controle, dados macroeconômicos robustos e o governo sinalizando, como nunca deixou de fazer aliás, responsabilidade fiscal.
Ao sinalizar redução dos juros, o Fed sai de uma espécie de armadilha feita para si. A taxa de juros está no maior patamar em mais de duas décadas. Saiu de um nível próximo a zero para a atual faixa de 5,25% a 5,50%.
Ela tem sido mantida nesse patamar por mais de um ano, mesmo com a economia desafiando as frequentes previsões de recessão, a inflação desacelerando e a manutenção do crescimento econômico – os ingredientes de um “pouso suave”.
“Embora a tarefa não esteja concluída, fizemos um grande progresso” no sentido de restaurar a estabilidade dos preços, disse Powell. O Fed define a estabilidade de preços como uma inflação de 2%, medida pelo índice PCE. O índice está atualmente em uma taxa anual de 2,5%.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias