Um programa específico para viabilizar a renegociação de dívidas de famílias de baixa renda e parcela da classe média, com o nome “Desenrola”, está sendo testado pela equipe de comunicação do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por meio de pesquisas. No debate do Jornal Nacional, na quinta-feira (25), o candidato petista afirmou que quase 70% das famílias brasileiras estão endividadas. Ainda falou sobre o grande percentual de mulheres endividadas porque não podem pagar a conta de água, a conta de luz, a conta do gás.
“Nós vamos negociar essa dívida. Pode ficar certo que nós vamos negociar com o setor privado e com o sistema financeiro”, disse o ex-presidente. Cerca de 8 em cada 10 famílias tem dívidas. Pesquisa realizada pela empresa Paschoalotto, especializada em cobrança de débitos, mostra a situação financeira das mulheres, que piorou mais do que a dos homens na pandemia. Dos 68% dos endividados, entre 25 e 51 anos, que têm as contas acumuladas essencialmente no cartão de crédito e em financiamentos, 70% desse contingente são mulheres.
O programa ainda está em elaboração, mas integrantes da campanha de Lula esperam acenar para dois públicos importantes com a proposta. Um deles são as mulheres, parcela mais endividada da população. O esboço atual do programa para renegociação de dívidas prevê a repactuação de débitos fora do sistema bancário, como contas de luz, água e alimentos. O público planejado são famílias que recebem até três salários mínimos (o equivalente hoje a R$ 3.636).
A ideia é debater o modelo do programa de renegociação de dívidas com o sistema financeiro e fazer parcerias com o Serasa e o SPC. A iniciativa deve ser levada à propaganda do candidato na televisão em algum momento da campanha.
De quebra, a equipe avalia ser possível alcançar eleitores de Ciro Gomes (PDT), que está em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. O pedetista mantém em seu programa de renegociação de dívidas uma proposta apresentada na campanha de 2018 para tirar 66 milhões de brasileiros do SPC.
Enquanto famílias dependem de renegociação de dívidas, sistema bancário ganha com juros e inflação elevados
Pesquisa divulgada neste mês pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) mostra que o endividamento e a inadimplência das famílias brasileiras voltaram a subir e bateram recorde em julho.
Segundo o levantamento, 78% das famílias brasileiras estão endividadas, e 29% estão com contas atrasadas. Os números são os maiores desde o início da pesquisa, em 2010. A pesquisa mostra ainda que as mulheres não só têm o maior nível de endividamento, mas também têm visto esse patamar aumentar nos últimos meses.
Segundo a CNC, 80,6% do público feminino relatam, em julho, ter dívidas entre cartão de crédito, cheque especial, crédito pessoal ou consignado, carnês, financiamento de carro ou imóvel, ou outros débitos. Em junho, esse porcentual era de 80,1%.
Entre os homens, a fatia dos endividados é um pouco menor, embora também tenha aumentado na passagem do mês. O porcentual saiu de 76,5% em junho para 77,5% em julho.
O economista do ICL André Campedelli explica que a elevada rentabilidade do setor bancário mostra que cada vez mais o Brasil é o “paraíso do rentismo”. Para ele, em um momento em que a economia passa por diversas dificuldades, “o endividamento de 78% das famílias brasileiras mostra que apenas uma parcela do país está ganhando com a combinação de juros elevados, alta inflação, elevado desemprego e péssima situação do poder de compra da população”.
Em entrevista à Folha de S Paulo, o economista Guilherme Mello, coordenador do NAPP (Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas) Economia da Fundação Perseu Abramo e que tem colaborado para a elaboração do programa do PT, disse que o nível elevado de endividamento das famílias é um empecilho para a reativação do consumo, considerado um motor para a geração de renda. “Tem dívidas das pessoas com os bancos, em cartão de crédito, cheque especial, crédito pessoal. Tem dívidas das pessoas com empresas públicas de energia, em lojas”, disse.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias