Governo avalia riscos de eventual migração de prefeituras com regimes próprios de previdência para o INSS

Ministério da Previdência Social diz que tem sido procurado por administrações municipais com regimes próprios de previdência, que seriam beneficiadas com redução da alíquota da folha de pagamentos de servidores.
19 de fevereiro de 2024

O governo federal avalia o risco de elevação do déficit do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) no longo prazo, se houver uma migração em massa de servidores municipais para o regime geral da Previdência Social. Isso porque uma medida aprovada pelo Congresso Nacional, no ano passado, corta a alíquota de contribuição de prefeituras de municípios menores, de 20% para 8%.

A medida, que foi incluída no mesmo projeto da desoneração da folha para 17 setores da economia, foi vetada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas o veto foi derrubado pelos parlamentares.

No fim do ano passado, o governo editou uma MP (medida provisória) para revogar o benefício, considerado inconstitucional pela área jurídica do Executivo. A iniciativa, porém, enfrenta resistências de deputados e senadores e é ainda alvo de negociações.

No entendimento do governo, se o Congresso insistir em manter a desoneração, essa situação pode agravar a disparidade entre prefeituras com regimes próprios de previdência.

A possível migração de servidores municipais para o regime geral poderia aprofundar o déficit do INSS, que em 2023 fechou em R$ 311,3 bilhões — ou R$ 283,6 bilhões, descontado o pagamento extraordinário de precatórios represados de anos anteriores.

Se, por um lado, a migração pode elevar receitas do INSS no curto prazo, no futuro, o rombo será maior com o pagamento de mais aposentadorias.

“Antes mesmo da decisão do Congresso Nacional, passamos todo o ano passado recebendo prefeitos para saber se haveria Refis [refinanciamento de dívidas] alongado, de 240 meses, outros querendo fazer a conta se valeria a pena migrar para o RGPS”, disse à reportagem Folha de S.Paulo o secretário do Regime Geral de Previdência Social, Adroaldo da Cunha Portal.

O projeto aprovado reduz de 20% para 8% da folha de pagamento a alíquota da contribuição para a Previdência Social de pequenos municípios. O benefício valerá para cidades de até 142.633 habitantes que não recebem cota-reserva do Fundo de Participação dos Municípios.

Diferentemente das médias e das grandes cidades, que têm regimes próprios de Previdência para os servidores públicos locais, as pequenas prefeituras contribuem para o INSS.

Impacto para prefeituras que já recolhem INSS é de R$ 4 bilhões ao ano

Pelas contas do governo, só com as prefeituras que hoje já recolhem para o INSS, o impacto é de R$ 4 bilhões ao ano com a medida. Mas a desoneração pode criar uma situação de elevada disparidade com as 2.118 prefeituras que têm regimes próprios e são responsáveis por mantê-los em equilíbrio.

Segundo informações da Folha, nessas localidades a alíquota patronal normal oscila entre 11% e 31%, com uma média de 16,5%. No entanto, o déficit atuarial (falta de dinheiro suficiente para cobrir o pagamento de benefícios no futuro) obriga cerca de metade das prefeituras a arcar com alíquotas suplementares que vão de 0,1% a 153,7% sobre a folha (em média, 18,5%).

Ou seja, além de reduzir a alíquota normal para os 8% aprovados pelo Legislativo, as prefeituras poderiam reduzir ou até extinguir as cobranças suplementares. O dinheiro ficaria livre para custear outras políticas públicas.

Na avaliação do Ministério da Previdência Social, o corte da alíquota do INSS para municípios poderia intensificar a busca de prefeitos pela migração para o regime geral como forma de obter um alívio de curto prazo sobre o caixa, movimento que já vinha ocorrendo no ano passado, em meio às dificuldades financeiras dos municípios.

Na avaliação do governo, a eventual migração deixaria a arrecadação do INSS menor para um montante de obrigações cada vez maior. O desequilíbrio acentuado das contas da Previdência exigiria um esforço fiscal ainda mais elevado por parte da União.

Também impactaria a aposentadoria dos servidores municipais que trabalharam a vida inteira para a prefeitura e nunca contribuíram para o INSS.

O governo, agora, tenta conscientizar as prefeituras sobre o efeito “bomba-relógio” da eventual migração.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo

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