Após prejuízo de R$ 1,4 bi no 1º semestre, ações das Lojas Americanas derretem. Empresa tentou interferir em agências de classificação de risco

Ontem, os papéis da varejista fecharam o dia com queda de 57,57%, cotadas a R$ 0,14. 
16 de agosto de 2024

As Lojas Americanas registraram prejuízo de R$ 1,4 bilhão no primeiro semestre do ano, o que significa que a varejista que passa por recuperação judicial após um escândalo contábil conseguiu reduzir as perdas. No mesmo período do ano passado, o resultado negativo havia sido de R$ 3,2 bilhões. O balanço da empresa foi divulgado na última quarta-feira (14).

Em 2023, a companhia registrou um prejuízo de R$ 2,27 bilhões, montante que representa uma variação de 82,8% em relação a 2022, quando a varejista teve perdas de R$ 13,2 bilhões (em valores atualizados).

Ontem (15), as ações da empresa chegaram a cair até 69,70%, a R$ 0,10, após o resultado e cancelamento de projeções. Mas, ao fim do dia, os papéis fecharam com queda de 57,57%, cotadas a R$ 0,14.

As ações da Americanas, negociadas sob o ticker AMER3, foram excluídas do Ibovespa e de outros 13 índices após a varejista ter o pedido de recuperação judicial acatado pela Justiça.

A rede de varejo é responsável por um dos maiores pedidos de recuperação judicial da história do Brasil, após a denúncia de um escândalo contábil em janeiro do ano passado.

Com o balanço, a empresa também anunciou em fato relevante no qual revela ter decidido cancelar previsões de desempenho publicadas no final do ano passado, citando como motivo apenas a necessidade da empresa de “reavaliar a expectativa de desempenho futuro em razão da divulgação dos resultados”.

Nas projeções, divulgadas em novembro passado, a Americanas estimava ter um lucro operacional medido pelo Ebtida maior que R$ 2,2 bilhões em 2025, com uma dívida bruta entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão e alavancagem abaixo de 0,75 vez.

A empresa terminou a primeira metade do ano com Ebitda positivo em R$ 1,3 bilhão, revertendo resultado negativo de R$ 1,185 bilhão de um ano antes.

Lojas Americanas: vendas brutas caíram 9%

As vendas brutas medidas pelo GMV caíram 9% no primeiro semestre frente ao mesmo período de 2023, para R$ 10,1 bilhões, pressionadas pelo segmento digital. No conceito lojas, as vendas da Americanas cresceram 19,7%, algo que a empresa atribuiu em parte a uma “otimização” do parque de lojas.

A Americanas terminou junho com 1.622 lojas no Brasil, queda ante as 1.803 lojas que a empresa operava em 2022 e os 1.731 pontos de venda de 2023.

Em 2023, o volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês) da empresa foi de R$ 22,8 bilhões, uma queda de 45,9% em relação a 2022.

De acordo com a Americanas, a redução ocorreu, principalmente, por conta das perdas de 75,7% nas vendas de sua plataforma digital. A soma de operações por esses canais foi de R$ 6,02 bilhões no ano passado, enquanto, em 2022, o volume havia sido de R$ 24,7 bilhões.

“Esse desempenho negativo no digital é atribuído à estratégia da companhia de diminuir o volume de vendas do 1P [vendas próprias] e migrar categorias relevantes para o 3P [marketplace], com o objetivo de melhorar a rentabilidade da operação”, informou a empresa.

Empresa tentou interferir em rating

De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, mensagens de WhatsApp trocadas por executivos da Americanas poucos dias após o anúncio de um escândalo contábil pela varejista, em 11 de janeiro de 2023, sugerem uma tentativa da empresa de ganhar tempo e endurecer o diálogo com agências de classificação de risco.

As trocas de mensagens, segundo a reportagem, indicam que a companhia começava a encarar a onda de downgrades (redução) em suas notas de crédito.

As mensagens foram anexadas ao recente parecer do Ministério Público para a busca e apreensão e aparecem em um grupo de WhatsApp formado por executivos da área financeira da empresa. No grupo, eles falam das reuniões realizadas com as agências de rating e de como teriam de abordá-las diante da expectativa de um rebaixamento em série naquele momento de turbulência.

Uma das mensagens, de 13 de janeiro, mostram Fabiana Oliver, que atua como diretora de Relações com Investidores da varejista até hoje, relata o resultado de uma destas reuniões. “S&P – não tem a intenção de prejudicar mas não tem como segurar um revisão de rating. Provável que saia ainda hoje. Mas vão voltar para os comitês e discutir o pedido de tempo”, diz a mensagem.

Naquele dia, a S&P fez um primeiro rebaixamento da Americanas para B, e a Fitch desceu para CC. A Moody’s fez seu primeiro corte só no dia 16, para Caa3, quando a S&P, então, reduziu para D, o que corresponde à situação de default (calote).

No dia 17 daquele mês, a Fitch desceu para C, e só chegou ao D no dia 19. A Moody’s também cortou novamente para Ca.

Segundo especialistas ouvidos pela Folha, o comportamento dos executivos foi inapropriado porque sinaliza pressão da empresa sobre a independência das agências de rating. Um pedido de tempo, se atendido, esconderia do mercado financeiro a verdadeira avaliação que caberia à varejista no momento, podendo influenciar na compra e venda de ações da empresa.

Redação ICL Economia
Com informações do InfoMoney e da Folha de S.Paulo

Continue lendo

Assine nossa newsletter
Receba gratuitamente os principais destaques e indicadores da economia e do mercado financeiro.