O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sinalizou, em um evento na segunda-feira (5), que a deflação registrada nos últimos meses no país é fruto das medidas do governo federal e que a batalha contra a inflação “não está ganha”. “Tem uma outra melhora que vem acompanhada disso (medidas do governo), mas a gente entende que ainda tem um elemento de preocupação grande e a mensagem é que precisamos combater esse processo de inflação. Muito provavelmente vamos passar por três meses de deflação, mas a batalha não está ganha.”
Campos Neto participou de sabatina organizada pelo jornal Valor Econômico, em São Paulo. Na ocasião, ele mencionou algo sobre o qual os economistas do ICL Economia Deborah Magagna e André Campedelli já vêm alertando: apesar da melhora no processo da inflação, os preços de alimentos vieram acima do esperado. Por isso, Campos Neto enfatizou que a autoridade monetária não pode “baixar a guarda”.
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) teve deflação de 0,73% em agosto, graças ao impacto da redução das alíquotas de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre os preços de combustíveis e energia. Alimentos e bebidas, por outro lado, continuaram em alta, com avanço de 1,12%.
A desoneração fiscal dos combustíveis foi uma das medidas eleitoreiras do presidente Jair Bolsonaro (PL) para tentar agradar parte de seu eleitorado com a redução dos preços da gasolina e do diesel na bomba. A extensão da desoneração, aliás, está prevista no Orçamento de 2023, que não garante, por sua vez, o Auxílio Brasil de R$ 600 conforme prometido.
Ainda sobre a inflação, Campos Neto frisou, ao longo da sabatina, que a inflação brasileira “tem características que inspiram cuidados”. “Temos trabalhado para entender o que pode ser uma pressão nos salários do setor de serviços. Dada a melhoria do emprego nos últimos meses, acima do esperado, ainda é preciso entender o tipo de gargalo que pode ter com mão de obra, esse será um dos temas da nova reunião do Copom (Comitê de Política Monetária)”, disse.
Economistas do ICL já alertavam para exagero do otimismo do governo com a inflação, PIB e demais dados econômicos
Em artigo publicado no ICL Economia, Deborah Magagna e André Campedelli sinalizam que a economia pode estar melhorando, “mas a renda média continua baixa e quase estagnada, os salários quando reajustados mal conseguem recompor a inflação passada e a qualidade do emprego das pessoas está cada vez menor”.
Em relação ao emprego, o presidente do BC disse na sabatina que a previsão dele para a taxa de desemprego é de 8,5% até o fim do ano. “Ele começou com empregos de baixa qualidade, mas estamos vendo uma reação. Não só no Brasil, o que estamos vendo é uma mudança estrutural da mão de obra.” Na opinião dos economistas do ICL, o cenário não é tão colorido como se vende.
Segundo eles, além do mercado de trabalho estar precarizado, “o salário mínimo, fonte de remuneração da maior parte dos trabalhadores brasileiros, não foi aumentado nenhuma vez durante o governo Bolsonaro. Então, isso mostra que basicamente todo o ganho econômico que veio ficou no andar de cima da sociedade, com algumas migalhas espalhadas para os andares de baixo. E sim, isso só foi possível com o enfraquecimento dos sindicatos e das formas cada vez mais criativas e precarizadas de trabalho que vem surgindo na economia brasileira dos últimos anos”, pontuam no artigo.
A situação salarial do trabalhador, aposentado e pensionista brasileiro deve continuar precarizada no ano que vem, uma vez que o governo incluiu reajuste de apenas R$ 90 ao mínimo na proposta da LOA (Lei Orçamentária Anual) de 2023.
Deborah e André discorrem ainda que, no caso da situação inflacionária, “a mais comemorada de longe pelos economistas do governo”, que fizeram, inclusive, comparações estapafúrdias ao dizer que o indicador brasileiro está menor do que a inflação americana e alemã. “No caso alemão, o acumulado em 12 meses chegou a 8,8% e nos Estados Unidos a alta foi de 10,07%. Já o nosso acumulado em 12 meses está exatamente igual ao dos Estados Unidos, em 10,07%”, lembram os economistas.
Sobre o PIB (Produto Interno Bruto), Campos Neto também se mostrou otimista para este ano, após o país ter crescido 1,2% no segundo trimestre. Ele espera novas revisões positivas do PIB de 2022, com boas perspectivas para os resultados do terceiro e do quarto trimestres.
No Relatório Focus do Banco Central, divulgado ontem (5), o mercado financeiro elevou ligeiramente suas projeções para o PIB neste ano e no próximo. Os analistas esperam que o PIB cresça 2,26% este ano e 0,47% em 2023, um aumento ante a mediana das projeções da semana anterior, de 2,10% e 0,37%, respectivamente.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias