A queda da inflação, de 0,68% em julho, ficou restrita ao desempenho dos combustíveis e da energia elétrica e não representa um alívio no bolso das famílias mais pobres, já que os alimentos registraram alta de 1,30%. Além disso, a taxa acumulada do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em 12 meses, segue em dois dígitos, a 10,07%.
Os analistas pontuam que uma deflação tradicional se dá quando os preços de vários bens e serviços recuam, diferente do observado no dado divulgado nesta terça-feira (9). A última vez em que o Brasil registrou deflação foi em maio de 2020, quando a economia balançou com os primeiros impactos da pandemia coronavírus
Os preços de combustíveis e energia recuaram na última leitura do IPCA, influenciados pelo projeto que limitou o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo. O ICMS é um tributo estadual. Com o projeto, a alíquota máxima do imposto foi definida na faixa de 17% a 18%, dependendo da localidade. Antes, ela chegava a superar 30% em alguns estados.
Em ano eleitoral, o governo apostou nessa medida tributária para melhorar os índices de inflação. Economistas afirmam, portanto, que essa deflação não está relacionada com um comportamento natural da economia, já que ela reflete uma decisão de retirada de impostos sobre energia elétrica e combustíveis, com caráter explicitamente eleitoreiro.
Antes do corte do tributo, os analistas consultados pelo relatório Focus, do Banco Central, chegaram a projetar uma inflação na casa de 9% no acumulado de 2022. Mas, agora, já revisaram o número para próximo de 7%.
Mesmo com o número melhor, o governo não vai cumprir a meta de inflação deste ano – que é de 3,5%, podendo oscilar entre 2% e 5%. Será o segundo ano consecutivo de estouro da meta de inflação.
A inflação continua prejudicando as famílias mais pobres, pouco afetadas pela queda no preço da gasolina, que também já pagavam uma alíquota baixa para o consumo de energia elétrica.
No bolso dos mais pobres, o que pesa mais é a alta os preços dos alimentos, que segue forte.
Mais pobres não sentem queda da inflação. E ainda pode haver uma inflação de alimentos maior no próximo mês
É preciso olhar bem os números. Dos nove grandes grupos pesquisados pelo IBGE, apenas dois tiveram deflação: transportes, por causa da queda nos combustíveis; e habitação, por conta da energia elétrica. Os outros sete continuaram subindo. Entre eles, alimentação e bebidas: o grupo, que teve mais aumento de preços, acelerou até em relação a junho.
Segundo o economista do ICL André Campedelli, a deflação do IPCA em julho é boa para a classe média e não para a população mais pobre do país. “Houve a queda do preço dos combustíveis e da energia elétrica após a redução do ICMS e, com a medida, menor repasse do imposto para as áreas de saúde e educação. Mas os preços dos alimentos continuam aumentando. É o segmento de alimentos que mais pesa no bolso da população mais pobre. O leite aumentou 25%, elevando também os preços os derivados: queijo, manteiga, entre outros. Ainda pode haver uma inflação de alimentos maior no próximo mês”, afirma o economista.
Um acompanhamento mensal realizado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) deixa evidente como a alimentação pesa mais para os mais pobres.
Nos 12 meses até junho, a inflação para as famílias com renda menor do que R$ 1.726,01 foi de 11,99%. Só alimentação respondeu por quatro pontos percentuais do total
Na previsão dos economistas, a deflação de julho do IPCA vai dar lugar para uma inflação baixa em agosto. “É cedo para comemorar porque temos muitos desafios no radar”, afirmam economistas consultados.
Entre os riscos, os economistas pontuam, além da falta de uma política econômica efetiva e das medidas eleitoreiras do atual governo, a volatilidade com o período eleitoral, os desdobramentos da guerra entre Ucrânia e Rússia e o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos – juros mais altos na economia norte-americana tendem a atrair recursos aplicado em economias emergentes, como a brasileira, e podem levar a uma desvalorização do real, provocando mais inflação.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias