O Relatório Focus desta semana, divulgado ontem (29) pelo Banco Central, aponta que o mercado financeiro manteve a mesma tendência observada nas últimas semanas, prevendo novas melhoras para o cenário econômico de 2022 e uma piora para o de 2023. Contudo, a exceção dessa vez é que os analistas preveem uma inflação menor para o próximo ano em relação ao que havia sido previsto na semana passada.
Por outro lado, os analistas entrevistados para a elaboração do Relatório Focus do Banco Central mantiveram as perspectivas para a Selic e para a taxa de câmbio. “Parece que o mercado passou a enxergar os efeitos deflacionários dos combustíveis de forma mais alongada, já que, em conjunto com a queda do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), vem ocorrendo também queda do preço internacional do petróleo, que acaba influenciando o preço dos combustíveis”, avaliam os economistas do ICL Deborah Magagna e André Campedelli, que compilaram os dados no “Economia para Todos – Boletim Diário de Notícias Econômicas e Atualização do Mercado”.
Mas, na compreensão dos economistas sobre o Relatório Focus, para as políticas fiscais do governo atual, a visão continua a mesma, de uma melhora de curto prazo e um agravamento da situação econômica no médio e longo prazo. Tanto que a expectativa de inflação para 2022 foi reduzida, saindo de 6,82% para 6,7%.
“Desde o dia 03 de junho, ou seja, há quase três meses, quedas consecutivas para as perspectivas inflacionárias do ano têm ocorrido. O principal fator do recuo nas estimativas tem sido a política de redução do ICMS, que tem efeito de curto prazo na queda dos combustíveis. Porém, um novo fator também passou a atuar para a diminuição desses preços: a baixa do preço do petróleo, que impacta diretamente no preço dos combustíveis, fazendo com que a Petrobras realize algumas reduções em seus valores”, dizem os economistas do ICL.
As projeções inflacionárias foram estendidas no Relatório Focus para 2023, ano em que o mercado baixou o sarrafo nas projeções inflacionárias para 5,3%, sendo esta a segunda queda consecutiva para a percepção do próximo ano. Isso porque o cenário global, que está puxando o preço do petróleo para baixo, deve persistir por mais tempo do que se imaginava anteriormente, o que faz com que as pressões inflacionárias previstas para o próximo ano se amenizem.
Relatório Focus traz projeção do PIB melhor para 2022 e pior para 2023. Câmbio e taxa Selic não tiveram alterações
Em relação ao crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), houve melhora na previsão do cenário do ano atual e uma piora para o próximo ano no Relatório Focus. Para 2022, o mercado prevê crescimento econômico de 2,1%, percentual acima do que vinha sendo previsto pelas entidades oficiais, como o Banco Central e o Ministério da Economia. Por outro lado, para 2023 a perspectiva voltou a se reduzir, saindo de 0,39% para 0,37%.
O mercado ainda acredita nos efeitos de curto prazo das medidas de incentivo fiscal e teme pelos seus efeitos no longo prazo. “Além disso, existe o recado do mercado financeiro para as candidaturas à frente nas pesquisas eleitorais, buscando pautar a política econômica, além do existente receio do mercado em relação às atitudes da equipe econômica do líder das pesquisas neste momento”, apontam Deborah e André.
Recentemente, o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica), considerado uma prévia do PIB, registrou alta de 0,57% no segundo trimestre, apontando uma desaceleração da economia brasileira, ocasionada pelo aumento da inflação no período. Em junho, o indicador registrou crescimento de 0,69%, interrompendo uma sequência de dois meses de queda. No acumulado de 12 meses até julho, o IBC-Br acumula alta de 2,18% (sem ajuste sazonal).
A divulgação oficial do PIB ocorrerá na quinta-feira (1º), pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). De acordo com o Banco Central, o IBC-Br caiu pela metade em relação ao primeiro trimestre deste ano, quando foi apontado crescimento de 1,11%.
Em relação à taxa Selic e à taxa de câmbio, pela quinta semana seguida o mercado não previu nenhuma alteração, tanto para o ano atual quanto para o próximo. O mercado manteve a previsão de 13,75% para a taxa básica de juros em 2022 e de 11% para 2023.
Na opinião dos economistas do ICL, isso mostra que a percepção continua sendo de nenhuma alteração da taxa Selic este ano e de que a taxa básica de juros deva passar por quedas consecutivas a partir de 2023.
Outro importante termômetro econômico, a previsão para o dólar continua em R$ 5,20, tanto para este quanto para o próximo ano. Ou seja, o mercado não acredita em variações cambiais muito relevantes neste momento, ainda que, em um cenário eleitoral, usualmente haja maior volatilidade na taxa de câmbio e uma certa tendência de alta.
Grosso modo, o mercado financeiro desconfia que as medidas de estímulo fiscal, aplicadas neste ano, possam gerar efeitos positivos no curto prazo, mas devem trazer sérias consequências fiscais no médio e longo prazo. “A grande diferença neste último relatório foi a situação inflacionária. Devido ao cenário econômico mundial, a inflação passou a ter no petróleo uma fonte de redução em suas pressões mais persistentes, inclusive reduzindo-as para o próximo ano, algo que não estava sendo previsto anteriormente no Relatório Focus”, concluíram os economistas do ICL.
Redação ICL Economia
Com informações do Economia para Todos – Boletim Diário de Notícias Econômicas e Atualização do Mercado