Tudo depende da Aneel: funcionamento das térmicas custará R$ 30 bilhões, que serão repassados ao consumidor na conta de luz

Nove térmicas a gás foram contratadas a um alto custo durante racionamento de energia no passado. Não entraram em operação como o previsto e, hoje, com os reservatórios das hidrelétricas estão cheios, não fazem mais sentido
18 de outubro de 2022

Com o risco de aumentar a conta de luz dos consumidores, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) avalia se vai colocar em funcionamento um grupo de nove térmicas. Elas foram contratadas, enquanto havia racionamento no passado, de forma emergencial, com alto custo de energia, e deveriam já estar operando.

Hoje, com os reservatórios das hidrelétricas cheios, o mercado trabalha com o preço de R$ 55,70/MWh. O não funcionamento das nove térmicas significa uma economia de R$ 30 bilhões na conta de luz, o que impediria um aumento de 3,6% na tarifa de energia nos próximos três anos, segundo dados da Frente Nacional dos Consumidores de Energia. 

A projeção da Frente Nacional dos Consumidores de Energia considera nove empreendimentos ainda não avaliados pela Aneel. Uma usina da Rovema, identificada como RE TG 100 02 01, quatro da mbar Energia, as EPP 2, EPP 4, EDLUX 10 e Rio de Janeiro 1, e quatro térmicas da empresa turca Karpowership, Karkey 013, Karkey 019, Porsud 1 e Porsud 2.

Com reservatórios cheios, térmicas servem apenas para encarecer conta de luz

conta de luz, emissão de gases

Crédito: Envato

Essas térmicas são projetos de empresas que venceram um leilão emergencial, em outubro do ano passado, batizado de PCS (Procedimento Competitivo Simplificado). Pela proposta, 17 usinas, 3 de fontes renováveis e 14 a gás deveriam ser construídas para atuarem como térmicas antirracionamento. Usinas antigas, já em operação, estavam proibidas de participar do certame. As novas térmicas deveriam elevar a oferta de energia de 1º de maio de 2022 a 31 de dezembro de 2025.

Na época, o país sofria com a crise hídrica, o que pressionava o preço da energia e, por consequência, da conta de luz. Mas, o preço da conta de luz estipulado no PCS, R$ 1.560 pelo MWh (megawatt hora), foi considerado elevado e a realização do leilão chegou a ser questionada na Justiça pela Abrace (Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres).

Segundo a Abrace, é importante que a Aneel encerre o julgamento das usinas do PCS, porque a decisão define o custo da conta de luz para o consumidor de energia. A Abrace informa que se elas forem retiradas do PCS, por não cumprirem o contrato, ainda podem operar. A diferença e que não vão receber o valor definido em leilão, mas o preço à vista.

O cumprimento dos contratos, com a suspensão dos projetos atrasados, é igualmente defendido pelo MME (Ministério de Minas e Energia) e pelo TCU (Tribunal de Contas da União), mas o tema tem análise lenta na Aneel.

A avaliação dos projetos da mbar e da KPS chegou a entrar na pauta da reunião de diretoria da Aneel em 11 de outubro. Porém foram retiradas na última hora.

No início de agosto, a diretoria a agência votou pelo cancelamento dos quatro projetos da Karpowership. A empresa, no entanto, recorreu, e agora aguarda a decisão final. Nesse meio, porém, conseguiu ligar duas usinas, Karkey 019 e Porsud 1, depois de uma liminar liberar a documentação necessária para a operação desses projetos.

A Rovema também teve o pedido negado pelo relator do processo, no entanto, ocorreu pedido da vistas e a definição permanece em suspenso.

O caso mais complexo é o da mbar, braço de energia da J&F, que também controla a JBS, maior empresa de carnes do mundo. Os projetos representam mais da metade da conta que será paga pelos consumidores, quase R$ 18 bilhões, e retornaram à pauta na terça-feira (18) na Aneel, segundo informou a reportagem da Folha de S Paulo.

A definição em relação às quatros usinas vai estabelecer, em paralelo, se é possível substituir esses novos empreendimentos por uma térmica antiga, de 21 anos, procedimento questionado pelo setor. A diretoria permitiu a substituição, por entender que, apesar de a medida ferir o contrato, haveria benefício para o consumidor, algo que não foi identificado nem pelo MME ou pelo TCU.

O MME enviou correspondência à Aneel em que afirma considerar irregular o aval da diretoria da agência para mbar usar a usina de Cuiabá no lugar das novas térmicas e defende o cumprimento dos contratos do PCS, em outra palavra, a rescisão dos contratos de quem não cumprir o cronograma.

O TCU tem processos em andamento sobre os PCS, sob relatoria do ministro Benjamin Zymler. Um deles pode levar à suspensão do PCS. O tema já foi a plenário. Zymler defende que, dado o alto custo ao consumidor, todos os contratos do PCS devem ser reavaliados individualmente pelo MME para que se defina a sua viabilidade e interesse público. O ministro Zymler aguarda explicações da agência para dar prosseguimento ao processo.

O julgamento, porém, está suspenso desde 31 de agosto, atendendo a pedido de vistas do ministro Aroldo Cedraz. A previsão é que volte ao plenário na quarta-feira (19).

Também está tramitando uma representação da Seinfra Elétrica (Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura de Energia Elétrica) que avalia a decisão da diretoria no caso da mbar. Os técnicos da Seinfra afirmam que a térmica de Cuiabá, que a mbar quer usar agora, já estava em operação na época do leilão -e a participação de usinas já em operação era proibida.

Além disso, o parecer da secretaria de fiscalização afirma que não há redução efetiva do custo da conta de luz, como argumentou a diretoria da Aneel para embasar sua decisão. A conclusão é que a autorização dada pelos diretores da Aneel para a troca do novos projetos por um antigo “caracteriza infração a norma”.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S. Paulo

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