Com a demanda global aquecida e preços elevados das commodities, a soja passou a responder por mais de 40% do valor gerado pela produção agrícola brasileira. Ao longo da pandemia, as commodities agrícolas subiram de preço com a procura aquecida no mercado internacional. A situação acabou estimulando exportações. O óleo de soja, por exemplo, acumulou inflação de 103,79% em 2020 e de 4,16% em 2021, de acordo com dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Sem política pública adequada, o produção vai toda para fora, porque os compradores internacionais têm dinheiro, pagam em dólar. E, internamente, os brasileiros pagam valores absurdos por itens essenciais para a subsistência.
Os dados fazem parte da pesquisa PAM (Produção Agrícola Municipal) 2021, divulgada na quinta-feira (15) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No ano passado, a produção agrícola do país totalizou R$ 743,3 bilhões em receita, na soma das culturas permanentes e temporárias. O crescimento foi de 58,6% ante 2020 (R$ 468,5 bilhões) em termos nominais sem o desconto da inflação.
A quantia mais recente representa um recorde na série histórica desde a criação do real, em 1994, também em termos nominais, de acordo com IBGE. O valor gerado apenas pela soja chegou a R$ 341,7 bilhões em 2021, outra máxima na série e uma alta de 102,1% em relação a 2020 (R$ 169,1 bilhões).
Com o avanço, a participação do grão frente à receita total da produção agrícola pulou para 46% no ano passado. O percentual era de 36,1% em 2020. No começo do século, em 2001, estava em 20,4%.
Produção agrícola no Brasil não privilegia alimentação da população
“A soja saiu da terceira posição no ranking de maior valor da produção agrícola nacional, na primeira metade da década de 1990, para tornar-se a principal commodity”, destaca o estudo do IBGE.
Segundo o instituto, o ganho da soja reflete investimentos em pesquisa e tecnologia nas lavouras. Essas ações teriam sido traduzidas no aumento da produtividade da cultura ao longo dos anos, que também passou a ser estimulada pela demanda externa e pelos preços elevados.
Em 2021, a safra de soja alcançou 134,9 milhões de toneladas, uma alta de 10,8% frente ao ano anterior, apontou o IBGE.
Depois da soja, as maiores participações no valor total da produção agrícola brasileira vieram do milho (15,7%) e da cana-de-açúcar (10,1%).
A safra de milho teve retração de 14,9% no ano passado, com 88,5 milhões de toneladas. Mesmo assim, o valor da produção da cultura subiu 60,7%, para R$ 116,4 bilhões.
A receita mais elevada, diz o IBGE, está associada ao aumento dos preços da commodity, em razão da baixa oferta do produto e do câmbio em patamares elevados, que favoreceram a exportação.
A cana-de-açúcar, por sua vez, teve um crescimento de 24,4% no valor, para R$ 75,3 bilhões, em 2021. Porém, houve queda de 5,3% na produção, para 715,7 milhões de toneladas.
“O ano de 2021 foi marcado pela instabilidade climática entre o outono e o inverno, que afetou principalmente o desenvolvimento das culturas de 2ª safra em boa parte do território nacional. Culturas como o milho, a cana-de-açúcar e o café apresentaram significativa queda na produção. Os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul foram os mais afetados”, diz a pesquisa.
“Contudo, as principais culturas temporárias com predomínio de cultivo na 1ª safra, como a soja e o arroz, apresentaram bons resultados. Destaque para o estado do Rio Grande do Sul, que apresentou boa recuperação, após problemas climáticos enfrentados no ano anterior”, acrescentou.
Para os economistas do ICL, André Campedelli e Deborah Magagna, não se observa a mesma intensidade vista no plantio de soja e milho para o feijão e o arroz, essenciais na alimentação do brasileiro. “No primeiro caso, mesmo com uma queda de 13 mil hectares a serem plantados em 2022, a perspectiva é de um leve aumento da fronteira agrícola para o bem, de 78 mil hectares. Porém, no caso do arroz, nem mesmo uma expansão deve ocorrer. A estimativa, inclusive, foi de queda da área plantada em 7 mil hectares, como mostram as perspectivas entre o final do ano de 2021 até o momento”, observam os economistas.
Isso mostra que a produção agrícola no país não privilegia a alimentação da população, mas a exportação.
Entre os estados, o Mato Grosso voltou a registrar o maior valor de produção agrícola no ano passado: R$ 151,7 bilhões (20,4% do total). O aumento foi de 91,5% em termos nominais, grande parte em razão da soja, seu principal cultivo.
Em seguida, o Rio Grande do Sul alcançou R$ 90,8 bilhões (12,2% do total). A alta chegou a 138,4% em relação a 2020.
São Paulo ficou em terceiro lugar, com R$ 84,1 bilhões (11,3% do total). O valor teve crescimento de 23,7% frente ao ano anterior.
Entre os municípios, o líder em valor de produção agrícola, pelo terceiro ano consecutivo, foi Sorriso (MT). O indicador local atingiu R$ 10 bilhões, uma alta de 86,4% ante 2020. A soja e o milho foram as culturas de maior valor.
Ao longo da pandemia, as commodities agrícolas subiram de preço com a procura aquecida no mercado internacional. A situação acabou estimulando exportações, segundo analistas. No mercado interno, o reflexo foi o aumento dos valores cobrados por alimentos nas gôndolas dos supermercados.
O óleo de soja, por exemplo, acumulou inflação de 103,79% em 2020 e de 4,16% em 2021, de acordo com dados do IPCA, também calculado pelo IBGE. O milho em grão, por sua vez, subiu 13,56% em 2020 e 18,61% em 2021.
Já o açúcar refinado acumulou inflação de 12,11% e de 47,87% nos mesmos períodos. O cristal avançou 25,24% e 37,55%, respectivamente.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias