Em viagem à Europa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) classificou como irracional a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central de manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, pela sétima vez consecutiva. Durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira (22) em Roma, na Itália, Lula voltou a fazer críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
“Não se trata do governo ficar brigando com o Banco Central. Quem está brigando com o Banco Central hoje é a sociedade brasileira”, disse, ao citar a CNI (Confederação Nacional das Indústrias), varejistas e pequenos e médios produtores.
“É irracional o que está acontecendo no Brasil, você ter uma taxa de 13,75% com uma inflação de 5%” disse. “Tenho cobrado dos senadores. Foram os senadores que colocaram esse cidadão [Campos Neto] lá. Então os senadores têm que analisar se ele está cumprindo aquilo que foi aprovado para ele cumprir. Na lei que está aprovada, ele tem que cuidar da inflação, do crescimento econômico e da geração de empregos. Então ele tem que ser cobrado. É só isso.”
Em seu discurso, Lula lembrou ainda que, devido ao fato de o presidente do BC não ter sido indicado por ele, não pode ser cobrado pela decisão.
“Quando o presidente indicava o presidente do Banco Central, quem era cobrado era o presidente. Agora, não. O presidente não pode fazer nada. O Senado é que tem responsabilidade de cobrar dele”, completou Lula.
A Lei de Autonomia do Banco Central, de 2021, estabelece mandatos fixos ao presidente do BC e seus diretores, com mandato de quatro anos, com direito a uma recondução. Indicado pelo antecessor Jair Bolsonaro, Campos Neto pode ficar no cargo até dezembro de 2024.
Antes de embarcar para a França, onde vai se encontrar com o presidente Emmanuel Macron nesta sexta-feira (23) para discutir, entre outros temas, o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, Lula disse ainda que Campos Neto joga contra a economia brasileira.
“Não existe explicação aceitável do porquê a taxa de juros está 13,75%. Nós não temos inflação de demanda”, avaliou. “Acho sinceramente que esse cidadão está jogando contra os interesses da economia brasileira”, concluiu.
Ontem, o Copom manteve a Selic no patamar atual, o maior desde novembro de 2016 (14%) e, ao contrário do que esperava o mercado, não deu sinais de que vai iniciar o ciclo de redução da taxa básica de juros em agosto. No comunicado com a decisão, a autoridade monetária pede “paciência”.
Equipe econômica reage mal à decisão do Copom sobre a taxa Selic. Campos Neto é alvo preferencial das críticas
A equipe econômica reagiu mal à decisão do Copom e, segundo reportagem da Folha de S.Paulo, interpretou o comunicado como um “boicote” ao governo de Lula.
De acordo com relatos ouvidos pelo jornal, membros do governo subiram o tom das críticas contra o BC, sendo Campos Neto o alvo principal. Agora, já se fala em “declaração de guerra” por parte da autarquia.
O trecho que causou mais indignação na equipe foi o trecho do comunicado divulgado com a decisão, que cita “alguma incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal”. A proposta foi aprovada ontem (21) pelo Senado e volta para a Câmara dos deputados, devido às mudanças feitas pelos senadores.
No entanto, outra ala do governo ainda mantém esperanças de que a ata do Copom, a ser divulgada na próxima terça-feira (27) com maior detalhamento da decisão, traga um tom mais ameno, abrindo espaço para sinalizar um corte na Selic nos próximos meses.
Ontem, um grupo de 51 integrantes do Conselhão (Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Presidência da República), dentre eles a empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza, escreveu uma carta aberta pedindo corte de juros. Houve ainda um protesto em frente ao prédio do BC em São Paulo, na terça-feira (20), promovido por centrais sindicais.
Na semana passada, Luiza causou constrangimento público a Campos Neto, ao criticar o atual patamar da Selic durante um evento do setor de varejo em São Paulo.
Nas redes sociais, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), defendeu a saída dos atuais integrantes do BC. “Está na hora do Senado agir, com os poderes que a lei confere, para cobrar Campos Neto e a diretoria bolsonarista do Banco Central. Sabotam a economia e atuam propositalmente contra o país. Não há mais como tolerar esta situação. O certo é a saída desse pessoal”, afirmou em seu perfil no Twitter.
Em tom mais ameno, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), disse à Folha que discorda da decisão do BC e reclamou que “nem aceno teve” para um corte de juros. “Mas é o papel deles, eles estão fazendo a missão deles. Só quero ter o direito de discordar. Eu e o Brasil”, disse.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e Folha de S.Paulo