Faltando 13 dias para o segundo turno das eleições presidenciais 2022, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, e o principal cabo eleitoral dele, o ministro da Economia, Paulo Guedes, têm manipulado os dados da economia brasileira, da inflação, para alavancar o nome do mandatário do país nas pesquisas de intenção de votos. Bolsonaro tem aparecido em segundo lugar nos levantamentos, atrás do petista Luiz Inácio Lula da Silva, e, para manter-se competitivo, tem usado a economia como um de seus principais trunfos para angariar votos. Mas, a exemplo do que fez na semana passada, o economista Eduardo Moreira, do ICL, usou da matemática da vida real para destruir o argumento de Bolsonaro e Guedes, de que a inflação brasileira é a mais baixa do mundo.
Na edição desta segunda-feira (17) do ICL Notícias, programa de Moreira que vai ao ar de segunda a sexta-feira no YouTube, ele esmiuçou os dados da inflação para mostrar que a propagandeada deflação apontada pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) nos últimos três meses, é completamente descolada da realidade. Ao contrário, ele comprovou que a inflação brasileira ainda é uma das mais altas da América Latina e Caribe, e que a média dos países mais ricos do mundo (G7) e dos emergentes (G20).
Além disso, Guedes e Bolsonaro têm dito que a inflação brasileira é a menor do mundo, em uma tentativa de confundir o eleitor brasileiro, mentira que, aliás, foi falada pelo chefe do Executivo no primeiro debate presidencial do segundo turno, transmitido ontem à noite (16) pela TV Bandeirantes e pelo Canal UOL.
“Embora apareça atrás nas pesquisas, o Bolsonaro se mantém competitivo (na disputa) pelas mentiras que ele conta no campo econômico, mentiras espalhadas por Guedes e Bolsonaro e que, inclusive, foram usadas, ontem, no debate”, disse Moreira.
Na semana passada, o economista já havia usado o programa para desmentir outra fake news publicada por Guedes em sua conta oficial no Instagram, para distorcer dados publicados pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), dizendo que o “Brasil vai crescer mais que a China pela 1ª vez em 42 anos”.
No canal, Moreira desmentiu a notícia falsa, ao mostrar que Guedes manipulou os números. Para este ano, o FMI projeta crescimento de 2,80% no PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, enquanto as projeções do mercado financeiro, registradas no último Boletim Focus do Banco Central, preveem alta de 2,71%.
Ainda assim, conforme observou Moreira, o crescimento da economia brasileira ficará atrás de muitos países na região. “O Brasil só está na frente (nas projeções) do Peru, El Salvador, México, Chile e Paraguai”, ressaltou.
Para 2023, o crescimento esperado é de apenas 1,0%, segundo prevê o FMI, enquanto o mercado financeiro brasileiro prevê crescimento de 0,59%. Para a China, a projeção de crescimento é de 3,2% para este ano e, para o próximo, de 4,4%.
Inflação brasileira acumulada nos últimos 24 meses é uma das mais altas do mundo
É fato que o IPCA, considerado a inflação oficial brasileira, apontou deflação nos últimos três meses. Mas a negativação do indicador foi comprada pelo governo federal com medidas eleitoreiras para forçar o preço dos combustíveis para baixo, com a desoneração dos impostos. Esta medida, assim como o Auxílio Brasil e as bolsas caminhoneiro e taxista, estavam no pacote eleitoreiro do Executivo federal para reeleger Bolsonaro.
“Para forjar uma inflação menor, ele (Bolsonaro) deu uma canelada nos preços dos combustíveis, fazendo com que os preços caíssem para que a classe média, que tem um impacto muito grande no resultado da eleição, tivesse uma percepção de que as coisas estão melhorando”, apontou Moreira.
Mas, segundo o economista, o índice de inflação não reflete a realidade que as pessoas encontram nas prateleiras dos supermercados.
Para ilustrar seu argumento, ele mostrou um gráfico com a inflação dos últimos dois anos, incluindo 20 países (incluindo o Brasil), mais G7, G20 e Europa. O único país excluído do comparativo foi a Argentina, que registra há anos hiperinflação, com números muito fora da curva, segundo Moreira.
No primeiro gráfico mostrado por ele, o Brasil (19,25%) aparece quase empatado com o Chile (19,54%) na dianteira da maior inflação do período avaliado (setembro de 2020 a agosto de 2022), à frente de países como Uruguai, Jamaica, Colômbia, e também da média dos países do G7 (11,77%), do G20 (14,08%) e da Europa (13,69%).
No segundo gráfico mostrado por Moreira, os dados são pormenorizados, com a finalidade de mostrar o quanto a inflação penalizou justamente a população mais vulnerável do país, que gasta boa parte da renda para comprar comida.
O gráfico mostra, por exemplo, que itens essenciais como óleo diesel (107%) e óleo de soja (100,74%) dobraram de preço no período. Outros, como café moído (79,34%), leite (73,57%) e açúcar (54,77%) também tiveram reajustes exorbitantes no período analisado.
“Isso aqui não é a vida do brasileiro? Isso é o que aconteceu com os preços das coisas no Brasil nos últimos 24 meses. São dados oficiais usados para calcular o IPCA. Não só o que Bolsonaro e Guedes dizem em relação à inflação brasileira, de que é a menor do mundo, é uma mentira deslavada, mas (também) porque, apesar da deflação dos últimos três meses, (a inflação) ainda é uma das maiores do mundo”, criticou Moreira.
Segundo Moreira, o indicador mostrado pelos dois não reflete a realidade do povo trabalhador. A inflação no governo Bolsonaro, segundo ele, explodiu em relação ao resto do mundo. “Guedes e Bolsonaro são desonestos intelectualmente”, apontou.
Redação ICL Economia
Com informações do ICL Notícias