O CMN (Conselho Monetário Nacional) se reúne hoje (29) e pode discutir mudanças no regime de meta de inflação, conforme antecipou ontem (28) o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Além disso, o colegiado, que reúne os mandatários da Fazenda (Haddad, na presidência), do Planejamento e Orçamento (Simone Tebet) e do Banco Central (Roberto Campos Neto), definirá a meta de 2026.
Em entrevista à jornalista Míriam Leitão, na GloboNews, Haddad, que completa seis meses no cargo colecionando vitórias e mantendo boa relação com o Congresso Nacional, disse que considera a meta da inflação do ano que vem como decidida (3%) e criticou o método de cálculo usado para defini-la. “Quase a totalidade dos países saiu do ano-calendário”, disse.
Haddad já havia dito que o Brasil é um dos dois países do mundo que adotam o regime de metas de inflação e que têm como horizonte para cumprimento do objetivo o ano-calendário. O outro país é a Turquia.
Há tempos ele defende uma alteração para metas contínuas de longo prazo, com calibragem mensal, que seriam menos suscetíveis a volatilidades. Esse modelo é mais parecido com o dos Estados Unidos.
Na entrevista à jornalista, Haddad criticou indiretamente o mercado, que “fetichiza” um determinado indicador. Também disse que o arcabouço fiscal deve ser aprovado e garantiu que a reforma tributária não vai aumentar os impostos para o setor de serviços e profissionais liberais.
As decisões do CMN são tomadas por maioria simples de votos. Então, uma eventual mudança no modelo de meta precisa de dois dos três votos.
Para este ano, a meta de inflação é de 3,25%, com intervalo de tolerância entre 1,75% e 4,75%. Para 2024, a meta é de 3%, (intervalo entre 1,5% e 4,50%); e, para 2025, 3% (intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,50%.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem criticado, além do nível atual da taxa básica de juros (Selic), em 13,75% ao ano, o patamar da meta da inflação. Isso porque o presidente do BC tem justificado que a taxa alta é necessária no objetivo da autoridade monetária de cumprir a meta de inflação.
BC reduz estimativa para IPCA a 5% e deve estourar a meta de inflação pela terceira vez consecutiva. Autarquia eleva projeção do PIB para 2%
Comprovando que faz sentido a mudança no regime de metas de inflação, nem o Banco Central tem conseguido cumprir objetivos tão ambiciosos. De acordo com o relatório de inflação do segundo trimestre, divulgado nesta quinta-feira (29) pelo BC, houve redução na expectativa da inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) para este ano, de 5,8% (março) para 5% este mês.
“Em termos de probabilidades estimadas de a inflação ultrapassar os limites do intervalo de tolerância, destaca-se, no cenário de referência, a redução da probabilidade de a inflação ficar acima do limite superior em 2023, que passou de cerca de 83% no relatório anterior [de março] para 61% neste relatório”, acrescentou o Banco Central.
O mercado financeiro estimou, na semana passada, que a inflação medida pelo IPCA somará 5,06% nesse ano.
Para 2024, a projeção do BC para o IPCA recuou de 3,6%, em março, para 3,4% no documento divulgado hoje. Já para o ano de 2025, a estimativa de inflação do Banco Central caiu de 3,2% para 3,1%.
Se confirmada a projeção do BC, será o terceiro ano seguido de não atingimento da meta de inflação.
Para o PIB (Produto Interno Bruto), o Banco Central elevou de 1,2% para 2% a estimativa de crescimento.
O aumento na projeção ocorre após a divulgação do resultado do PIB do primeiro trimestre, que apontou expansão de 1,9%, na comparação com os três últimos meses do ano passado. O resultado ficou acima das expectativas de economistas.
Apesar do aumento, a projeção do BC para o crescimento da economia brasileira neste ano está abaixo do mercado financeiro, que projeta alta de 2,18%.
No ano passado, o PIB expandiu 2,9%, enquanto em 2021, apresentou crescimento de 5%.
“Apesar da alta na estimativa para a variação anual, a projeção continua refletindo um cenário prospectivo de desaceleração da atividade econômica em 2023 sob influência da diminuição do ritmo de crescimento global e dos impactos cumulativos da política monetária doméstica [taxa de juros elevada]”, ressaltou o BC no relatório.
Redação ICL Economia
Com informações do G1 e de O Globo