Na última reunião do governo de Jair Bolsonaro (PL), o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central deve decidir, nesta quarta-feira (7), pela manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano, percentual que está em vigor desde agosto de 2022, o segundo mais alto do mundo. A decisão será divulgada após as 18 horas de hoje.
O BC iniciou o governo Bolsonaro com a taxa de juros em 6,5% ao ano. Em 2020, durante a pandemia de Covid-19, a taxa básica de juros foi reduzida para 2% ao ano, menor patamar da história.
A partir de março de 2021, devido às pressões inflacionárias, a autoridade monetária do país iniciou a trajetória de elevação da Selic em todas as reuniões (12 consecutivas), até chegar ao patamar atual de 13,75% ao ano. Trata-se do mais longo ciclo de alta da Selic desde 1999, o que deixou a taxa básica de juros no maior patamar em seis anos.
Hoje, o Brasil lidera a lista de juros mais altos do mundo, quando se retira a Argentina do ranking. Mas se deve levar em conta que a economia do país vizinho é ditada por uma série de distorções.
Juros altos são bons somente para uma coisa: para os bancos, que engordam cada vez mais seus lucros. Quando a Selic sobe ou se mantém em um patamar elevado, como é o caso agora, isso significa, por exemplo, a contaminação de toda uma cadeia de operações de crédito, que se tornam mais caras, além de tornarem também mais custosos os investimentos feitos por empresas. Esse ciclo da Selic em alta provoca um círculo vicioso que aprisiona a economia de girar de modo saudável e bom para todo mundo.
Taxa Selic só deve voltar a cair a partir do ano que vem, conforme previsão do mercado financeiro
No último Relatório Focus do Banco Central, os agentes do mercado financeiro ouvidos para a publicação projetavam a Selic no mesmo patamar até o fim de 2022. Uma queda gradual da taxa só deve começar a partir do ano que vem, mas, ainda assim, os agentes elevaram a previsão da Selic de 11,50% para 11,75% ao ano no fechamento de 2023.
Neste ano, o ciclo da alta dos juros foi interrompido em setembro, quando o BC buscou conter as pressões inflacionárias do momento, que envolveram a pandemia, a interrupção temporária na oferta de alguns produtos, a inserção de recursos extraordinários na economia (auxílios temporários) e as consequências da guerra na Ucrânia.
Por outro lado, ainda não é possível baixar a guarda. Para este ano, a meta central de inflação é de 3,5% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%. Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.
A previsão do mercado para a inflação deste ano, segundo apontou o Boletim Focus, é de 5,92%, e para ano que vem é de 5,08%. Se confirmado, será o terceiro ano seguido de estouro da meta. Em 2022, o BC já admitiu que o objetivo não deve ser alcançado.
O foco do BC é ajustar a taxa Selic para tentar atingir a meta de inflação dos próximos anos, uma vez que as decisões sobre juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia.
Importante pontuar que a queda na inflação registrada neste ano foi efeito das medidas eleitoreiras do presidente Bolsonaro, para baixar os preços dos combustíveis e, consequentemente, a inflação. As medidas, no entanto, tiveram efeito apenas no curto prazo e a inflação volta a dar as caras novamente.
Além disso, a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição, elaborada pela equipe do governo eleito para encontrar espaço no Orçamento de 2023 ao Bolsa Família de R$ 600, mexeu com as expectativas do mercado sobre as contas públicas. Como a medida, que será votada hoje (7) no Senado, permite um gasto acima do teto de gastos de R$ 145 bilhões, os agentes temem o impacto disso na dívida pública e na inflação.
Redação ICL Economia
Com informações do G1