A despeito de toda a pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da equipe econômica do governo, o Copom (Comitê de Política Monetária) deve manter, nesta quarta-feira (3), a taxa Selic nos atuais 13,75% ao ano. A última vez que a autoridade monetária elevou a taxa básica de juros da economia foi em setembro passado. A partir daí, ela foi mantida no patamar atual, o maior desde novembro de 2016.
O Brasil é o líder do juro real do mundo (quando descontada a inflação), o que torna tudo caro – investimentos e crédito, principalmente -, pois a Selic é a taxa de referência de todas as demais utilizadas na economia. Por isso, a reclamação do presidente Lula tem sua razão de ser.
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, argumenta para a necessidade de manter a Selic no nível de hoje devido à inflação por demanda, argumento já desmentido pelos economistas do ICL (Instituto Conhecimento Liberta). Com o bolso minguado, o brasileiro não está comprando bens. O dinheiro é destinado basicamente à compra de itens de necessidade básica e pagamento de dívidas.
Durante uma coletiva de imprensa recente para apresentar o Relatório Trimestral de Inflação, o presidente do Banco Central chegou a dizer que, “se fosse cumprir a meta de inflação em 2023, teria que ter juro de 26,5%”, e alegou que a instituição está buscando “um processo de suavização” no cumprimento da meta. Mas, ao que se vê, a suavização não chega.
Em doze meses, até março, a inflação oficial medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) somou 4,65%. O grande destaque foi aumento da gasolina, que subiu 8,33% no mês passado. Para os anos de 2023 e 2024, o mercado estima que o IPCA somará 6,05% e 4,18%.
Resta esperar o comunicado que virá no início desta noite quando a decisão dos juros for anunciada e, depois, a ata da reunião, que poderá trazer sinais dos próximos passos da política monetária.
Lembrando que, nesta chamada “Super Quarta”, também será anunciada a nova taxa de juros dos Estados Unidos. A expectativa de analistas é de reajuste de 0,25 ponto percentual, a um patamar de 5% a 5,25% ao ano, uma decisão importante pois interfere em toda a economia global.
Taxa Selic: no Senado, Campos Neto explica pouco ou quase nada sobre os juros no Brasil
Tanto o presidente do BC quanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, debateram a taxa básica de juros no Senado Federal na semana passada. Campos Neto também participou de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
Aos senadores, ele não deu indicações de quando a Selic deve começar a cair, justificando para a necessidade de cumprir a meta de inflação, em 3,25% este ano. E, sem explicar como fez a conta, ele disse que “hoje, para controlar a inflação e a expectativa do ano que vem, teríamos que ter juros de 18,75% [ao ano]. Se não tivéssemos [elevado a Selic], a inflação ia contaminar e subir bastante”, disse na ocasião.
Lembrando que, em 2021 e 2022, Campos Neto, indicado ao cargo pelo ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, também não cumprir a meta de inflação. Para este ano, relatório do BC também prevê que o estouro da meta deve acontecer, o que denota que a política de juros altos é uma cilada da qual a direção da instituição não consegue sair.
De seu lado, o ministro Fernando Haddad mostrou preocupação aos senadores com a desaceleração da economia, por conta também da alta dos juros. Segundo ele, isso pode gerar problema nas contas públicas, por conta do impacto na arrecadação.
“Se a economia continuar desacelerando, por razões ligadas à política monetária [taxa de juros alta, fixada pelo Banco Central], vamos ter problemas fiscais, porque a arrecadação vai ser impactada. Não tem como separar. Se desacelero a economia, vou ter impactos fiscais”, afirmou na ocasião.
Nesta semana devem acontecer primeiras indicações de Lula à diretoria do Banco Central
O ministro Haddad também afirmou a jornalistas, segundo reportagem publicada no G1, que nesta semana saem as primeiras indicações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à diretoria do Banco Central.
Os mandatos de dois diretores do Banco Central (BC) terminaram em fevereiro, e caberá a Lula, segundo a lei que fixou autonomia à instituição, decidir se reconduz os gestores aos cargos ou se escolhe novos integrantes. Há indicações de que novos nomes serão indicados.
Os diretores que devem deixar os cargos são o diretor de Política Monetária, Bruno Serra Fernandes; e também o diretor de Fiscalização, Paulo Souza. Até o fim do mandato, o presidente Lula ainda terá direito a decidir se reconduz ou se troca mais sete diretores, incluindo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do G1