O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou neste sábado (2), em evento em São Paulo, que é um “milagre” a economia brasileira ter capacidade de crescer 3% ao ano, conforme as expectativas após o PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre, com um juro real no atual patamar em que se encontra. “Fica difícil explicar para um economista estrangeiro como a economia cresce 3% com a taxa de juro real de 10%, não tem livro de economia que explique o que acontece com a economia brasileira. É prova da nossa pujança”, disse.
Ele explicou, segundo reportagem da Folha de S. Paulo, que o objetivo do governo é buscar resultados primários cada vez mais consistentes, “contando que a autoridade monetária vai se somar a esse esforço, porque, se continuarmos pagando 10% de juro real ao ano, é muito difícil o fiscal responder”.
O ministro também explicou que o gasto tributário por meio de desonerações hoje equivale a cerca de 10% do PIB, dos quais 6% em nível federal, 3% em nível estadual e 1% em nível municipal. Para Haddad, “com 1% desses 10% a gente ajusta as contas públicas. Não é pedir demais”.
Meta de zerar o déficit primário em 2024 é ambiciosa, porém factível
Sobre a meta de zerar o déficit primário em 2024, Haddad disse que é “ambiciosa, porém factível, reforçando que “se todo mundo remar na mesma direção, ela vai acontecer”.
A fala de Haddad rebate o ceticismo do mercado em cumprir a meta de déficit zero em 2024, estabelecida pelo governo.
O esforço fiscal e a trava do arcabouço que impede um crescimento dos gastos acima de 2,5%, acrescentou o ministro, melhoram as condições de sustentabilidade da dívida pública e podem permitir ao BC (Banco Central) sinalizar um corte não mais de 0,5 ponto percentual da Selic, mas de 0,75 ponto, defendeu o ministro.
O ministro disse ainda que o Congresso vai desempenhar um papel chave para ditar os rumos da economia brasileira no restante do ano. Segundo ele, se o Congresso afastar pautas bombas e medidas populistas, o país pode terminar o ano “muito bem”.
Lula também volta a defender a queda de juro real
O presidente Lula voltou a defender a queda de juros no país e a criticar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na última sexta-feira (1°), durante cerimônia de comemoração aos 18 anos de criação do Programa Agroamigo, em Fortaleza (CE).
Lula explicou que “nós temos que ter dinheiro para investir. E dinheiro para ser investido a juros baratos. Por isso é que o cidadão do Banco Central precisa saber que ele é presidente do Banco Central do Brasil e não do Banco Central de um país que não seja o Brasil, e que precisa baixar os juros. Não é possível”.
O presidente enfatizou esperar que Campos Neto e “alguns economistas” entendam que “o dinheiro que existe nesse país precisa circular nas mãos de muita gente”. Ele reafirmou que o juro continua alto no país: “2,16% ao mês é muita coisa. Dá quase 30% ao ano, porque é juros sobre juros. Então, eu acho que nós precisamos baixar ainda”.
Em agosto, o Banco Central cortou a taxa básica de juros pela primeira vez em três anos, mas com uma redução muito pequena. A Selic passou de 13,75% ao ano – maior patamar desde 2017 – para 13,25% ao ano.
Por seu lado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, argumenta que a manutenção da taxa de juros é importante para conter a inflação.
Pela atual legislação do país, o presidente do Banco Central tem autonomia — ou seja, não pode ser demitido por Lula.
Redação ICL Economia
Com informações do jornal Folha de S Paulo e G1