A Cúpula das Américas, o encontro entre os líderes dos países da América do Sul, América Central e América do Norte, que começou nesta segunda-feira (6) e segue até sexta (10), em Los Angeles (EUA), debate políticas comuns aos países do continente. Nessa edição, problemas enfrentados diretamente pelo Brasil estão entre as principais questões.
O encontro está, em parte, esvaziado. Os Estados Unidos, que organizam o evento, excluíram Cuba, Venezuela e Nicarágua, sob a alegação de que não são países democráticos. México, Argentina, Honduras e Bolívia responderam que não irão participar por se oporem à exclusão das nações vizinhas. No total das 35 nações, 12 não participarão.
O presidente Jair Bolsonaro, que deve chegar à Cúpula das Américas somente na quinta (9), já é um dos assuntos principais do encontro, devido ao desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai) Bruno Araújo Pereira, na Amazônia, em região tensa onde há invasões de caçadores, pescadores e madeireiros.
Os dois sumiram no último domingo (5) ao se deslocarem de barco pelo Rio Itaquaí após visita à Terra Indígena do Vale do Javari. Em todo o mundo, ambientalistas e imprensa lembraram, de imediato, dos assassinatos do líder seringueiro Chico Mendes (1988) e da missionária Dorothy Stang (2005). Até o momento, não há notícias sobre o paradeiro de Phillips e Pereira.
Brasil pediu mudanças na declaração sobre o clima da Cúpula das Américas
Somado a essa questão do desaparecimento, o Brasil que, sob o governo Bolsonaro, é conhecido por estimular a destruição ambiental – uma das reais ameaças à mudança climática em todo o mundo – está sob holofotes também por ter protagonizado pressão junto ao governo americano para que texto da declaração do encontro sobre o clima fosse alterado.
Segundo o jornalista Jamil Chade informou em sua coluna no portal UOL, os governos integrantes da Cúpula das Américas chegaram, nesta segunda-feira, a um acordo sobre o texto, depois que Brasil e Colômbia apresentaram uma alternativa à redação. O ponto mais delicado se referia à transição a uma economia sustentável.
Ainda segundo o jornalista, “um dos principais pontos de discórdia neste momento era uma declaração conjunta que Biden quer ver aprovada sobre mudanças climáticas e meio ambiente. Sem o Brasil, porém, o trecho sobre clima não faria sentido”.
Segundo apurou Chade, um dos temores de ambientalistas é de que o texto final, para acomodar a todos, acabe sendo “minimalista” e sem um compromisso ambicioso.
O presidente Bolsonaro é visto pelos demais países como inimigo das florestas e dos ecossistemas brasileiros e o desmatamento da Amazônia e outros biomas nunca foi tão grave.
Crescimento econômico e desigualdade no radar dos debates da Cúpula das Américas
A questão ambiental como um fator para impulsionar o crescimento econômico é também outro ponto de destaque das discussões dos líderes das Américas.
A jornalista Heloísa Villela comentou o tema no ICL Notícias, desta terça-feira (7). Ela destacou que o encontro irá “tratar de como sair dos problemas econômicos trazidos pela pandemia ou, de outra maneira, do acirramento dos problemas econômicos”.
Villela ressaltou que a desigualdade é uma coisa que se vê em todo o hemisfério, inclusive nos EUA. “A desigualdade está se acirrando ao invés de diminuir. É um problema do sistema em que vivemos. O sistema capitalista produzindo essa desigualdade e a pandemia da Covid-19 acrescentou ainda mais problemas econômicos a todos os países”, disse.
Nesta terça (7), foi publicado nos EUA o relatório “Excessos executivos 2022” (nome em português) que só comprova a desigualdade. Os números apontam o aumento do “fosso” entre os trabalhadores e empregadores. “O salário-base dos grandes empresários é de US$ 10, 6 milhões por ano, enquanto o salário médio dos trabalhadores é da ordem dos US$ 23 mil dólares anuais.
A Cúpula das Américas foi idealizada em 1994 pela Organização dos Estados Americanos (OEA), após os Estados Unidos terem apresentado a proposta de criação de uma Área de Livre Comércio (Alca) entre todos os países da América do Norte, América do Sul, América Central e Caribe, com exceção de Cuba. Esse acordo estreitaria caminhos de uniões comerciais entre si e o desenvolvimento dos países, com acordos de diminuição alfandegária, entre outros, mas acabou nunca saindo efetivamente do papel.