O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse ontem (22) “discordar respeitosamente” das interpretações feitas por agentes financeiros de que teria colocado a autoridade monetária em um “corner”, ou seja, como se estivesse encurralado o BC, ao falar sobre inflação e taxa de juros.
Durante participação em evento da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), Galípolo fez um discurso duro sobre inflação e juros e repetiu que a autarquia subirá a taxa básica se necessário e que decisões desse tipo são corriqueiras no BC. Ele se referiu a falas em evento na PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), no início da semana, tinham gerado ruído de interpretação.
Cotado para substituir Roberto Campos Neto na presidência do BC, a partir do ano que vem, Galípolo tem participado de uma série de eventos, ocasiões nas quais tem reforçado que a preocupação com a inflação está no radar da autarquia. A meta de inflação perseguida pelo BC neste e no próximo ano é de 3%, podendo oscilar na banda 1,5 ponto percentual para mais (4,5%) e para menos (1,5%).
“Inflação fora da meta é situação desconfortável, e ter que subir juros é situação cotidiana para quem está no BC”, frisou.
No evento promovido pela Fenabrave, Galípolo disse que as ferramentas do BC “são amplas” e incluem subir os juros se for preciso.
As falas dele tem sido consideradas hawkish (duras com a inflação) por agentes do mercado, ou seja, como se estivessem apontando um direcionamento para o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC subir a Selic em pelo menos 25 pontos-base em setembro, mesmo em meio à relativa melhora do cenário externo, já que as taxas futuras precificam isso.
Galípolo diz que comando da autarquia cogitou interferir no mercado de câmbio
Em outro evento promovido pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), em São Paulo, também ontem, Galípolo disse que o BC cogitou, debateu e chegou muito próximo a fazer uma intervenção no câmbio, mas considerou que uma atuação poderia ter efeito contraproducente. A fala dele converge com a de Campos Neto em entrevista nesta semana.
Ele reforçou que o BC não quer passar a ideia de que não está analisando eventual necessidade de intervenção, reafirmando que a autoridade monetária só atua nessa área se detectar disfuncionalidades no mercado, não perseguindo um determinado patamar do dólar.
“Nós cogitamos, debatemos e chegamos muito próximo de fazer uma intervenção no câmbio, porque a ideia de disfuncionalidade não diz respeito exclusivamente à métrica de falta de liquidez, mas também a descolamento dos pares e descolamento de fundamentos”, disse.
“E por esses parâmetros a gente assistiu movimentos bastante relevantes, mas acho que era momento que, pela idiossincrasia, talvez uma intervenção pudesse ser contraproducente pelo sinal passado para o mercado”, complementou.
O dólar passou por grande volatilidade nas últimas semanas, em meio a incertezas globais, incluindo um temor de recessão nos Estados Unidos, algo que se dissipou mais recentemente, levando a um processo de acomodação do câmbio.
Galípolo acrescentou que as reservas cambiais do Brasil fazem parte de uma conquista estrutural que dá conforto e coloca o país em posição mais favorável para enfrentar desafios.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias