O conflito entre o Hamas e Israel, que teve início no fim de semana, trouxe mais preocupações para a economia brasileira. Ontem (9), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu a existência de um cenário externo desafiador, já contaminado pela fragilidade de algumas das principais economias do mundo e turbinado pelo conflito no Oriente Médio. Contudo, Haddad destacou que o avanço da agenda econômica interna deve proteger a economia brasileira de possíveis desdobramentos.
Durante entrevista coletiva para o lançamento da plataforma do programa Desenrola Brasil, em São Paulo, Haddad afirmou que fatores externos podem ajudar a acelerar a aprovação de matérias importantes para o governo no Congresso e enfatizou que o planejamento da equipe econômica possibilita que não haja preocupações com a economia do país.
“Com o cenário externo se complicando como está, o nosso desafio aqui é fazer a nossa agenda interna evoluir o mais rápido possível para proteger a economia brasileira”, disse o ministro. “Quanto mais desafiador o cenário externo, maior pressa de nós endereçarmos os assuntos internos”, complementou.
A escalada da guerra entre o grupo Hamas e Israel, que já deixou até o momento mais de 1,5 mil mortos, trouxe preocupações para o cenário global, principalmente para o mercado de petróleo.
Ontem, os contratos futuros do petróleo tiveram uma alta robusta, devido ao temor de que a guerra possa afetar o fornecimento da commodity. Os preços do barril da commodity saltavam perto de 4%, revertendo as quedas vistas na semana passada.
Sobre esse tema, Haddad afirmou que não se pode tomar decisões “precipitadas” com base em fatores “voláteis”, como os preços da commodity, e sinalizou que é necessário aguardar os demais desdobramentos dos conflitos em Israel.
“Temos que aguardar. Essas coisas são muito voláteis… A pior coisa que pode acontecer é você tomar decisões precipitadas que podem colocar em risco uma política. Então, vamos avaliar e ver como esse episódio se desdobra”, ponderou.
O ministro ainda voltou a mencionar a taxa de juros alta nos Estados Unidos e a desaceleração da China como outros fatores a serem reconhecidos no cenário externo.
Gabriel Galípolo diz que dados da economia brasileira permitem continuidade de corte da taxa de juros
Ontem, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, também fez comentários sobre o cenário externo mais desafiador e sobre os próximos passos da política monetária. Ele disse que o processo de queda da inflação em direção às metas estabelecidas pelo governo, embora lento, permite ao Banco Central continuar com o ciclo de corte dos juros, apesar dos desafios impostos pelo ambiente global.
Galípolo participou de reunião por videoconferência do Conselho Empresarial de Economia da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).
“A gente tem um cenário mais desafiador do ponto de vista internacional nesse segundo semestre, com desafios novos que vão surgindo, inclusive com o conflito que surgiu ao longo desse final de semana [em Israel]. E com uma série de impactos para questão de preços internacionais. Temos um desafio maior hoje, um cenário mais desafiador”, afirmou o diretor do BC.
Ainda assim, ele lembrou que o BC vem indicando, como fez na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), um ritmo de corte de 0,5 ponto percentual nas próximas duas reuniões.
Galípolo indicou que o ambiente doméstico melhor compensa a complexibilidade do cenário global. “O Brasil consegue seguir em um pace [ritmo] de corte de juros, no ritmo anunciado em agosto, primeiro porque a inflação vem apresentando comportamento benigno. A gente olha desde a virada do ano passado para agora, tivemos surpresas positivas tanto no crescimento econômico quanto na inflação. Crescimento veio superior ao que se imaginava. E a inflação, apesar do crescimento maior, não teve surpresa negativa com inflação maior”, disse o diretor do BC.
O diretor do BC também comentou o aumento da taxa de câmbio nas últimas semanas. Nas negociações do dia de ontem, o dólar fechou a R$ 5,1300, com queda de 0,62%. Mas, na sexta-feira passada, a cotação da moeda encerrou a semana em alta de 2,69%.
Para Galípolo, esse aumento da taxa de câmbio se deve, principalmente, ao patamar mais elevado dos juros nos EUA, que levam à retirada de recursos de economias emergentes, como a brasileira.
“O mecanismo de transição do juro mais alto dos Estados Unidos para a política monetária [decisões sobre a taxa de juros brasileira] se dá pelo impacto que o câmbio pode ter no processo inflacionário”, explicou o diretor do BC.
O objetivo é superar os desafios domésticos e internacionais para ter taxas de juros e de câmbio em patamares que possibilitem o desenvolvimento do país de maneira estável e duradoura.
Plataforma do Desenrola Brasil é lançada
Ontem, o governo lançou a plataforma do programa de renegociações de dívida Desenrola Brasil, iniciando a terceira fase do programa, em que serão negociadas dívidas de até R$ 5 mil. Hadda manifestou preocupação com a acessibilidade à plataforma do programa.
Haddad afirmou que os interessados em participar do Desenrola precisam ter certificação de segurança ouro ou prata na plataforma gov.br, e que atualmente apenas 42% dos CPFs registrados na plataforma estão nessas categorias.
Ele enfatizou que os demais registrados precisarão realizar um upgrade em suas contas para se comprometerem com os protocolos de segurança da plataforma e receber a certificação necessária a fim de participar do programa.
Segundo o ministro, o Desenrola pode atingir 32 milhões de CPFs, restabelecendo o acesso ao mercado de crédito para uma parte significativa da população.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do Brasil 247