A inflação dos alimentos que compõem a cesta básica acelerou de 2,02% para 5,27% no Brasil de fevereiro a março. A alta acumulada em 12 meses também teve um salto de 12,67% para 21,46%. É o que mostra o estudo de professores do curso de economia da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).
Em março, os maiores aumentos entre os produtos da cesta básica foram registrados por tomate (27,22%), leite longa vida (9,34%), óleo de soja (8,99%), feijão (6,43%) e batata-inglesa (4,89%). Banana prata (-4,78%) e contrafilé bovino (-0,07%), por outro lado, recuaram.
Já no acumulado de 12 meses até março, as maiores altas vieram de tomate (94,55%), café (64,66%), açúcar cristal (35,68%), batata-inglesa (27,15%), óleo de soja (23,75%) e margarina (20,09%). A única queda no período foi a do arroz (- 13,88%).
Diante destes aumentos, o trabalhador que recebeu um salário mínimo líquido, ou seja, após o desconto de 7,5% da Previdência Social, comprometeu 58,57% da renda, em média, para adquirir os produtos da cesta. Em fevereiro, a porcentagem havia sido menor, de 56,11%, indica o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em março, os valores da cesta básica aumentaram nas 17 capitais pesquisadas pelo Dieese.
O comprometimento de 58,57% do salário mínimo com a cesta básica penaliza diretamente as famílias com menor poder aquisitivo. Na prática, mais da metade do salário mínimo fica comprometido com a subsistência básica.
A inflação dos alimentos da cesta básica, em 21,46%, corresponde a quase o dobro do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
Com relação à inflação oficial do governo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em 12 meses até março, o índice geral acumulou inflação de 11,30%, a mais intensa desde outubro de 2003 (13,98%), há 19 anos.
Inflação da cesta básica penaliza os mais pobres
De acordo com o economista Jackson Bittencourt, coordenador do curso de economia da PUCPR, a alta da cesta básica reflete uma combinação de fatores.
O primeiro é o clima adverso vivido em parte do Brasil nos últimos meses. Chuvas fortes no Sudeste e seca no Sul danificaram plantações. Os fenômenos extremos restringiram a oferta e impactaram os preços de parte dos 13 produtos que compõem a cesta.
Sem esquecer que a alta de preços veio em um contexto de pressões do clima adverso, do encarecimento dos custos de fretes e da guerra entre Rússia e Ucrânia. O conflito aumentou as cotações do trigo, pressionando no Brasil os preços de alimentos como o pão francês, um dos componentes da cesta, indica Bittencourt.
Por fim, a disparada dos combustíveis em março também gerou efeitos indiretos sobre os alimentos, de acordo com o professor. É que a inflação do óleo diesel eleva os custos com transporte de mercadorias, incluindo a comida.
“Uma inflação acima de 20%, como a da cesta básica, impressiona. Afeta todos os brasileiros. Mas são as classes com renda mais baixa que sentem mais. Elas estão empobrecendo”, diz o economista.
O estudo da PUCPR tem como base os dados de alimentos dentro do IPCA, calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O indicador da cesta básica passou a ser divulgado pela PUCPR ao longo do segundo semestre do ano passado.
Os registros da série tiveram início em setembro. À época, a inflação da cesta era de 15,96% no acumulado de 12 meses. O IPCA estava em 10,25% na ocasião.
Segundo Bittencourt, é possível que os alimentos pressionem menos o bolso dos brasileiros nos próximos meses, em um cenário de melhores condições climáticas. Contudo, a tendência aponta para preços ainda em nível elevado, pondera o professor. Riscos como a escassez de fertilizantes devido à guerra na Ucrânia permanecem no radar, de acordo com o economista.
A inflação persistente e as dificuldades no mercado de trabalho também são reflexo da falta de uma política econômica eficaz.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias