As análises do dia seguinte à decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, de baixar a taxa de juros de 13,75% a 13,25% ao ano, vão na direção de que a atitude surpreendente da autoridade monetária contribui para fortalecer a política econômica do governo Lula, conduzida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Após o fechamento dos mercados ontem (2), o Copom anunciou redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, em decisão apertada, mas acima das expectativas da maioria dos analistas que esperavam um corte mais parcimonioso, de 0,25 p.p.
Logo após o anúncio, Haddad concedeu uma rápida entrevista a jornalistas, na qual, em tom bastante conciliador, creditou todos os fatos positivos da economia brasileira no primeiro semestre deste ano, como queda do risco-país, redução da inflação e a elevação da nota de crédito soberano do Brasil por quatro agências de classificação de risco, à “harmonização dos poderes”.
O próprio Haddad disse também que a decisão do Copom, que vinha sendo pressionado pelo governo, empresários e sociedade a baixar os juros, vai permitir o início de um ciclo de “crescimento mais sustentável da economia”.
Desde que tomou posse na Fazenda, em janeiro, Haddad tem se esmerado em construir uma agenda para controlar as contas públicas, com crescimento da arrecadação sem elevar impostos e ajustes em gargalos da arrecadação tributária, com a meta de garantir o crescimento da economia brasileira nos próximos anos.
Visando garantir isso, o ministro tem buscado construir uma boa relação com o Congresso, de perfil muito mais conservador e distinto ideologicamente do Executivo, e tem sido bem-sucedido nessa articulação, muito mais até que os outros ministros do governo Lula.
Pode-se dizer que o ministro, pessoalmente, vem colhendo vitórias. Apesar de mudanças aqui e acolá nos textos originais, pautas importantes de Haddad, como a reforma tributária, o arcabouço fiscal e a mudança do voto de qualidade do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), estão avançando no Congresso.
O corte na taxa básica de juros emite um sinal de que o Congresso Nacional precisa continuar contribuindo para a melhora do cenário econômico.
Comunicado do Copom dá sinal ao Congresso, que precisa renovar parceria com Fernando Haddad
O próprio comunicado do Copom, divulgado ontem com a decisão, manda um recado indireto ao Congresso. Para que a taxa básica de juros continue caindo, conforme prevê o mercado financeiro no Boletim Focus do Banco Central, Câmara e Senado precisam finalizar as votações do novo marco fiscal (arcabouço); o projeto que restabelece o voto de desempate em favor do governo no Carf, instância de apelação de processos da Receita Federal; as medidas que o Ministério da Fazenda vai encaminhar ao Legislativo para garantir o déficit público zero no próximo ano; e a reforma tributária.
No comunicado divulgado com a decisão, o colegiado diz ainda: “O Copom avaliou a alternativa de reduzir a taxa básica de juros para 13,50%, mas considerou ser apropriado adotar ritmo de queda de 0,50 ponto percentual nesta reunião em função da melhora do quadro inflacionário, reforçando, no entanto, o firme objetivo de manter uma política monetária contracionista para a reancoragem das expectativas e a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante”.
O apoio do Congresso será crucial, portanto, para garantir mais reduções da Selic, como quer o governo e a sociedade, no sentido de desafrouxar a concessão de crédito e investimentos, fundamentais para que a roda da economia volte a girar com mais vigor.
Os efeitos da queda da Selic já começaram a surgir no mercado de crédito. Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil anunciaram, nesta quinta-feira (3), redução das taxas de juros do crédito, incluindo o consignado para beneficiários do INSS, que vinha sendo alvo de críticas do presidente Lula.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do G1