Sindicatos começam a ressurgir nos EUA com empregados em busca de mais direitos

“Países sem sindicatos fortes são sociedades mais desiguais”, afirma técnico do Dieese
12 de abril de 2022

Anunciada há poucos dias, a decisão de funcionários do armazém da Amazon, localizado em Staten Island (Nova York), de participar de um sindicato é vista como uma vitória inédita para trabalhadores da empresa e também tem um significado histórico dentro do movimento trabalhista nos Estados Unidos.

A Amazon é o segundo maior empregador privado dos EUA e resiste à sindicalização de seus funcionários desde que foi criada em 1994. Daí a importância da iniciativa encabeçada pelos próprios funcionários do armazém, com recursos limitados, arrecadados por meio de um site de financiamento coletivo.

A sindicalização na Amazon ocorre depois de uma série de vitórias semelhantes na rede de cafeterias Starbucks e em outras empresas menores nos Estados Unidos. Na semana passada, funcionários em seis unidades da Starbucks no Estado de Nova York votaram pela sindicalização, elevando para 16 o número de lojas da rede no país onde iniciativas do tipo foram bem-sucedidas. Trabalhadores e organizadores em pelo menos outras 180 unidades da Starbucks em 29 Estados já entraram com petições com o objetivo de levar adiante a sindicalização.

No entanto, apesar de relevantes, essas iniciativas representam uma ínfima parcela do total de trabalhadores no país. Somente a Starbucks tem mais de 9 mil lojas nos Estados Unidos e o depósito da Amazon em Staten Island também se torna pequeno diante dos mais de 1,5 milhão de funcionários ao redor do mundo da Amazon.

Pesquisas indicam mudanças

Mesmo a sindicalização ter seu alcance limitado, os estadunidenses têm mostrado interesse renovado no movimento trabalhista, depois de décadas de declínio. De acordo com pesquisa Gallup de setembro passado, 68% dos americanos aprovam sindicatos trabalhistas, o maior percentual desde 1965. Entre os entrevistados que se identificam como democratas a aprovação é ainda maior, chegando a 90%.

Por outro lado, outra pesquisa revela que o percentual de trabalhadores representados por sindicatos ainda vem caindo gradualmente no país desde a década de 1980, quando era em torno de 20%. Segundo o centro de pesquisas Pew Research Center, em 2021, somente 10,3% dos empregados no país pertenciam a um sindicato.

Em entrevista à BBC News Brasil, o professor John Logan, diretor do departamento de estudos sobre Trabalho e Emprego da San Francisco State University, na Califórnia, explica que os resultados das mais recentes pesquisas podem ser reflexo dos dois anos de pandemia, nos quais muitos trabalhadores estão cansados de receber salários que não acompanham a inflação enquanto grandes empresas registram lucros recordes. “Dois anos atrás, uma vitória como essa (na Amazon) seria impensável. Mas estamos em um momento diferente, com um cenário trabalhista completamente modificado”, ressalta Logan.

Reforma trabalhista no Brasil

No Brasil, a reforma trabalhista (Lei 13.467), aprovada pelo governo de Michel Temer em 2017, visou, entre tantos ouros malfeitos aos trabalhadores, enfraquecer os sindicatos, com deformação do sistema corporativo de relações do trabalho e das próprias condições, políticas e materiais, que haviam viabilizado a Constituição das Leis Trabalhistas (CLT).

A reforma tramitou pelo Legislativo sob sucessivas promessas governistas de criação de postos de trabalho e segurança jurídica. O fato é que os empregos não vieram até hoje, e a lei continua sofrendo questionamentos, inclusive jurídicos.

O diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, em entrevista à RBA, lembrou que a fragilização do movimento sindical tem como objetivo barrar a resistência dos trabalhadores na retirada de direitos e retrocessos. “Os países sem sindicatos fortes são sociedades mais desiguais, ou seja, no mundo todo os sindicatos aumentam o padrão de direitos e de proteção social”, destacou.

Redação ICL Economia
Com informações da BBC Brasil e agências

 

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