Seguem acenos ao mercado: Tebet diz que momento exige ‘coragem’ para corte de gastos de políticas públicas ineficientes. Mercadante também defende ajuste fiscal

Segundo a ministra, o corte das políticas ineficientes não visa somente ao superávit, mas trazer maior eficiência ao gasto.
29 de outubro de 2024

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou ontem (28) que o momento atual exige coragem para corte de gastos com políticas públicas ineficientes. “Não existe social sem fiscal”, declarou a ministra durante participação no 7º Fórum Brasil de Investimentos, Tebet disse que é preciso equilibrar as contas públicas para viabilizar programas que possam melhorar a vida dos brasileiros.

“Os números estão aí mostrando que tudo que tinha que dar certo, deu. Só falta uma coisa: ter coragem de cortar aquilo que é ineficiente. Erros e fraudes já foram cortados no ano de 2023 porque vieram como fruto da pandemia. Agora é hora de acabar com políticas públicas insuficientes e ineficientes para que possamos fazer, não superávit, mas os investimentos necessários, inclusive em infraestrutura. Como lembrou um grande veículo de comunicação recentemente, é preciso dobrar o investimento no país e, para isso, precisamos de parcerias”, ressaltou.

Segundo a ministra, o corte das políticas ineficientes não visa somente ao superávit, mas trazer maior eficiência ao gasto.

A exemplo de Fernando Haddad (Fazenda), a fala de Tebet manda um sinal para o mercado financeiro, que vem pressionando o governo por corte de gastos. O economista e coapresentador do ICL Mercado e Investimentos, André Campedelli, tem sido crítico a esses sinais dados pela equipe econômica, pois, no entender dele, corte gastos sociais é um contrassenso dentro do que se espera de um governo dito como progressista e fazem parte da “lógica liberal”. O que está fazendo a economia crescer são os estímulos que estamos tendo: aumento de salário real, então, é gasto público”, disse o economista recentemente.

Durante o evento, a ministra pontuou ainda que, além do corte de gastos, o Brasil precisa estimular investimentos privados. “Só investimento público é insuficiente. Nós, dos países considerados emergentes, estamos bem abaixo da média de investimento. Só conseguiremos alavancar isso fazendo o dever de casa, como estamos fazendo, garantindo a segurança jurídica e a estabilidade”, pontuou.

No evento, a ministra assinou um memorando de entendimento com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).

Segundo a ApexBrasil, o objetivo do memorando é promover e divulgar a iniciativa das cinco Rotas de Integração e Desenvolvimento Sul-Americano. As rotas visam incentivar e reforçar o comércio do Brasil com os países da América do Sul e reduzir o tempo e o custo do transporte de mercadorias entre o Brasil e seus vizinhos e a Ásia.

Tebet e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltaram a Brasília ontem de manhã e devem ter como foco discussões sobre corte de gastos.

Na semana passada, os dois estiveram em Washington, onde participaram de reuniões do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do G20.

Mercadante vê Brasil a caminho do grau de investimento e defende ajuste fiscal que não comprometa investimentos

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, manifestou nesta segunda-feira (28) que o Brasil está próximo de atingir o grau de investimento em sua dívida pública — classificação que representa maior segurança para investidores e menores riscos de inadimplência.

Durante o 7º Fórum Brasil de Investimentos, organizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Mercadante enfatizou que o governo deve realizar um ajuste fiscal cauteloso, que não comprometa os investimentos essenciais para o desenvolvimento econômico.

“Eu acredito que o Brasil tem todas as condições de alcançar o grau de investimento, mas é crucial que o governo faça cortes seletivos, com critério, para não comprometer o crescimento”, afirmou Mercadante, destacando a importância de reverter expectativas negativas sem afetar o progresso em áreas estratégicas, segundo aponta reportagem da Folha de S. Paulo. O evento, que também contou com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin e da ministra do Planejamento, Simone Tebet, foi palco para discussões sobre o papel dos investimentos na recuperação econômica e nas metas fiscais do país.

Recentemente, a agência de classificação de risco Moody’s elevou a nota de crédito do Brasil para “Ba1”, uma posição abaixo do grau de investimento. Mercadante explicou que, além dos ajustes fiscais, o controle sobre a taxa de juros é um ponto crucial. A taxa Selic, atualmente em 10,75% ao ano, tem previsão de subir para 11,75% até o final do ano, segundo o Boletim Focus, divulgado na mesma segunda-feira. Em tom crítico, Mercadante reforçou a necessidade de diálogo entre o governo e o mercado financeiro para evitar que o custo do crédito iniba investimentos produtivos. “É preciso que a Faria Lima escute nossas intenções e perceba que um diálogo construtivo é a melhor forma de reverter as expectativas sobre o Brasil”, alfinetou Mercadante.

Corte de gastos: Campos Neto defende “choque fiscal” para baixar juros

Em outro evento, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu um conjunto de medidas que sejam interpretadas como um choque fiscal positivo para que o Brasil tenha juros estruturalmente mais baixos. Ele participou de reunião com investidores organizada pelo Deutsche Bank, em Londres.

“Acredito que, se tivermos um choque fiscal muito grande, provavelmente conseguiremos sair com taxas mais baixas. Como esse processo vai acontecer eu não sei, e seria muito difícil dar um passo a passo do que eu acho que vai acontecer, mas acho que precisa ser algo que produza uma mudança de expectativa grande o suficiente para reverter a previsão de inflação e que impactasse a nossa reação de forma positiva”, disse.

Porta-voz do mercado financeiro, Campos Neto, cujo mandato à frente do BC termina no fim deste ano, tem defendido o “choque fiscal” nas últimas semanas.

Segundo o presidente da autoridade monetária, a falta de confiança na política fiscal do governo dificulta o processo de convergência da inflação para a meta.

“Isso é muito importante para nós, no BC, para sermos capazes de diminuir os juros de forma sustentável. Porque, no fim, nossa missão é atingir a meta de inflação, e é muito difícil fazer isso quando existe uma percepção de que o fiscal está desancorado”, afirmou em um evento na semana passada em São Paulo.

Na visão de Campos Neto, o governo enfrenta uma desconfiança do mercado em relação à capacidade do arcabouço fiscal em atingir as suas metas propostas.

O Boletim Focus do Banco Central divulgado ontem mostra que a mediana do mercado financeiro projeta que a inflação oficial brasileira, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), vai estourar o teto da meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), de 4,5% ao ano.

Para este ano, a expectativa de inflação do mercado financeiro avançou pela quarta semana seguida, passando de 4,50% para 4,55%. É a primeira vez que a mediana dos cerca de 150 analistas consultados fica acima do teto da meta em 2024.

Campos Neto e o mercado seguem pressionando o governo por revisão de gastos sociais e, ao mesmo, também há uma pressão sobre o Copom (Comitê de Política Monetária) para manter os juros altos. Em novembro, o colegiado se reúne e a expectativa é de novo aumento da Selic em pelo menos 0,50 ponto percentual.

Atualmente, a Selic está em 10,75% ao ano, e o Boletim Focus aponta que o indicador deve encerrar o ano em 11,75%. Além da reunião de novembro, o Copom tem outra reunião em dezembro.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

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