Artigo: Uma quarta-feira a ser esquecida

Esvaziamento dos Ministérios do Meio Ambiente e Povos Originário têm elevado potencial para trazer enorme retrocesso ambiental ao Brasil
29 de maio de 2023

Artigo de Deborah Magagna e André Campedelli *

A quarta-feira da semana passada foi com certeza um dos dias mais marcantes negativamente para a esquerda e para os progressistas brasileiros. O foco estava na aprovação da Nova Regra Fiscal Sustentável, nome oficial do antigamente chamado Arcabouço Fiscal. Mas o que se viu foi que um verdadeiro trator passou por cima de todas as pautas possíveis, numa atitude que tentou mostrar o poder que Arthur Lira possui na política brasileira atual. E com isso vimos retrocessos absurdos ocorrendo, principalmente na área ambiental.

As novas regras fiscais já foram amplamente discutidas aqui, e nada foi mudado, pelo menos por enquanto, mesmo sob protesto de alguns poucos deputados da base aliada. Orçamentos importantes, como da saúde e educação, ficaram dentro da regra e o investimento ainda está bastante travado dentro das regras propostas. Porém, mesmo com tantos problemas, essa conseguiu ser talvez a “melhor” notícia da noite.

As piores notícias vieram do lado ambiental, com o esvaziamento do Ministério do Meio Ambiente e também do Ministério dos Povos Originários, de novas regras que flexibilizam a utilização de áreas de proteção ambiental além da votação de urgência do chamado Marco Temporal. Todas essas medidas têm um elevado potencial para trazer um enorme retrocesso ambiental ao Brasil, num momento em que o país precisa dessa bandeira e de atuações de verdade para tal.

A própria bancada de situação chegou a comemorar o esvaziamento dos ministérios, numa possível retaliação à disputa entre Ibama e Petrobras sobre a exploração de petróleo numa área próxima à floresta amazônica. Porém, em todas as demais, temos o dedo de Arthur Lira e da bancada ruralista que ainda persistem em querer ver a boiada passar, utilizando a célebre frase do felizmente ex-Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. E tudo isso ajuda a piorar a situação e a imagem ambiental que o Brasil hoje luta tanto para recuperar no resto do mundo.

O mundo todo atualmente está preocupado com a questão climática e ambiental, e o Brasil é o país que tem o maior potencial para conseguir ganhos econômicos com isso. A floresta amazônica é a bandeira mais importante de toda essa luta, e vem atraindo dinheiro de diversos países do mundo para que sua preservação ocorra de forma mais eficaz. Medidas que afetem tal status do Brasil tem potencial de colocar em xeque nossa postura ambientalista, e aumentar nossos custos ou até mesmo precarizar ainda mais o combate ao desmatamento da Amazônia.

Ainda tem o fato de esses fatos desgastarem e muito a imagem de Marina Silva. Ela, na questão ambiental, é uma figura de extrema importância e com reconhecimento internacional importante. A figura de Marina como a autoridade máxima brasileira na luta pela preservação do meio ambiente é central para nossa imagem como responsável com nossos biomas e meio ambiente, e um abalo desta magnitude pode gerar desconfianças. Lembrando que não é somente uma questão política, mas sim uma questão de sobrevivência. É preciso cuidar do meio ambiente, pois senão o planeta em breve irá entrar em colapso, e nada poderá ser feito para mudar tal situação.

Então a bandeira ambiental não pode ser vista somente como algo para agradar os demais, que também é importante, mas deve ser levada a sério como parte de uma política que busca salvar não somente o Brasil, mas o mundo, de uma catástrofe climática. O agro e o capitalismo não vão querer saber de tais medidas, e sabemos que estes ainda mandam no congresso brasileiro. Mas é preciso enfrentar tal situação, pois não existe um plano B, não existe um mundo reserva. É neste que vivemos que precisamos cuidar, ou senão, não vai ter mais economia para nos preocuparmos.

*Deborah Magagna é economista do ICL, graduada pela PUC-SP, com pós-graduação em Finanças Avançadas pelo INSPER. Especialista em investimentos e mercados de capitais

*André Campedelli é economista do ICL e professor de Economia. Doutorando pela Unicamp, mestre e graduado em Ciências Econômicas pela PUC-SP, com trabalhos focados em conjuntura macroeconômica brasileira

 

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