O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ontem (5) que o PIB positivo do terceiro trimestre de 2023 surpreendeu, mas ainda é fraco. Ele reafirmou a estimativa, divulgada em novembro pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, de que a economia vai crescer 3% neste ano e projetou uma expansão de 2,5% para 2024, maior do que a projeção oficial da pasta, de 2,2%. No entanto, o Banco Central precisa continuar fazendo “o trabalho dele”, ou seja, manter a política de corte na taxa básica de juros (Selic) para reanimar o crescimento econômico.
Haddad está na Alemanhã acompanhando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros ministros em reuniões bilaterais com o governo alemão. A passagem pelo país é a última etapa da viagem da comitiva, após participação na COP28 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), que acontece em Dubai, nos Emirados Árabes.
“O PIB surpreendeu positivamente, porque cresceu e o mercado estava esperando uma retração. Mas quero alertar para o seguinte: a taxa de juros real (descontada a inflação) atingiu seu patamar mais alto em meados de junho, e o Banco Central só começou a cortar os juros em agosto”, disse Haddad a jornalistas em frente ao hotel onde o presidente Lula está hospedado na Alemanha.
“Tivemos um PIB positivo, mas fraco e, com os cortes nas taxas de juros, esperamos que fechemos o PIB em mais de 3% de crescimento (em 2023). E esperamos um crescimento na faixa de 2,5% no ano que vem, mas o Banco Central precisa fazer o trabalho dele”, acrescentou.
No terceiro trimestre do ano, o PIB (Produto Interno Bruto) teve uma variação positiva de 0,1%. Essa é a terceira taxa positiva seguida, após a variação de -0,1% nos últimos três meses do ano passado. Com isso, o PIB, que é a soma dos bens e serviços finais produzidos no país, está novamente no maior patamar da série histórica e opera 7,2% acima do nível pré-pandemia, registrado no quarto trimestre de 2019, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados ontem.
Apesar de ser uma pequena variação, o resultado superou expectativas dos analistas, que era de uma queda média de 0,2% nessa base de comparação.
Os cortes na taxa básica de juros (Selic) começaram em agosto passado, como disse o ministro. De lá para cá, a Selic saiu de um patamar de 13,75% para 12,25% ao ano, após três cortes consecutivos de 0,50 ponto percentual. O mercado estima nova redução neste mês, para 11,75% ao ano.
Segundo dados da Secretaria de Política Econômica, dentre os países do G-20 que já divulgaram o resultado do PIB do terceiro trimestre, o Brasil teve o quinto melhor desempenho. Para o órgão, o PIB deve mostrar novo crescimento no quatro trimestre deste ano.
PIB positivo: Campos Neto diz que 2023 foi um ano “bom”, com crescimento econômico acima do esperado
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse ontem que sua visão de 2023 é de um ano que foi “bom”, com crescimento econômico acima do esperado e convergência da inflação e dos juros, apesar de ruídos de curto prazo.
“Você conseguiu crescer mais, mas ainda assim conseguindo fazer uma convergência de inflação”, disse o presidente do BC em entrevista ao Jota, ao fazer uma retrospectiva do ano. Os comentários vieram poucas horas após o IBGE divulgar o resultado do PIB.
A menos de um mês do fim de 2023, Campos Neto avaliou o ano como um período em que o Congresso Nacional “trabalhou muito”, destacando a aprovação do arcabouço fiscal e o avanço da reforma tributária.
Para Campos Neto, 2023 “foi um ano bom, acho que a gente acaba, aqui no Brasil, fixando muito nas coisas do curto prazo, às vezes tem uma notícia ruim aqui ou ali, mas, quando eu converso com investidores estrangeiros que estão olhando vários países, eles acham que o Brasil teve um ano bastante bom, se destacou”.
O presidente do BC voltou a elogiar o trabalho do Ministério da Fazenda ao longo deste primeiro ano de mandato do presidente Lula, e também exaltou as conquistas do próprio Banco Central, apontando a redução da inflação — atualmente projetada abaixo do teto da meta ao final de 2023 pelos mercados, segundo o boletim semanal Focus.
“É óbvio, o juro ficou mais alto do que a gente gostaria durante um tempo, sim, mas o juro tá convergindo”, disse o presidente da autarquia, argumentando que a diferença de juros reais entre Estados Unidos e Brasil está “nas mínimas de muito tempo”.
Na entrevista, cujo enfoque foi a digitalização da economia, Campos Neto disse que o BC quer avançar no tema da conexão financeira global — incluindo moedas digitais e meios de pagamento — no G20 e citou proposta para a criação de uma “taxonomia” das transferências internacionais.
“A gente está caminhando para ter moeda digital em grande parte dos grandes países e até médios países, e se a gente puder criar um sistema de conectar as moedas digitais digitalmente… Então esse é um tema que a gente quer abraçar muito no G20”, afirmou.
Meta de déficit zero influi pouco nas decisões do BC
O presidente do Banco Central disse ainda que a meta de déficit fiscal zero para 2024, que está no projeto da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), teve pouca influência nas variáveis macroeconômicas analisadas pela autoridade monetária.
Ao mesmo tempo, Campos Neto defendeu a “previsibilidade” de gastos, ao passo que o Ministério da Fazenda vem reforçando seu compromisso de zerar o déficit fiscal e dar sustentabilidade à dívida pública.
“Ninguém hoje espera que o governo vá fazer 0% de meta (fiscal), e mesmo assim a gente vê que teve pouca influência nas variáveis macroeconômicas, que é o que é importante para o Banco Central no dia a dia. É importante ter uma previsibilidade do futuro”, disse Campos Neto em evento da Frente Parlamentar do Empreendedorismo.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do Brasil 247