O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, aproveitou sua participação em um evento em Londres para, mais uma vez, dizer que a atual taxa de juros no Brasil é necessária porque há uma meta de inflação a ser perseguida. Além disso, ele afirmou que mudanças na política monetária não têm relação direta com o arcabouço fiscal entregue ao Congresso na última terça-feira (18), desdizendo o que está escrito na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).
Lembrando que a ata do Copom atribuía a queda da inflação a uma nova regra fiscal “sólida e crível”, em uma clara demonstração de interferência da autoridade monetária na condução da política econômica. Isso porque Campos Neto tem sido constantemente cobrado pela alta taxa básica de juros no país (Selic), atualmente em 13,75% ao ano.
Em participação em reunião com investidores em Londres ontem (19), organizada pelo grupo Lide com o European Economics & Financial Centre (EEFC), o presidente do BC elogiou o conjunto de regras fiscais apresentado pela equipe econômica do governo Lula, mas frisou que baixar os juros nada tem a ver com o arcabouço fiscal.
“Parece [o projeto] mais ou menos em linha com o que vimos antes. É uma boa indicação de que estamos avançando na direção certa. O arcabouço tira um pouco do risco de cauda sobre um aumento da dívida rapidamente”, disse, enfatizando, no entanto, que, embora o projeto seja uma “grande contribuição”, não há relação direta sobre o política monetária. Mas frisou que “qualquer coisa que melhora o canal de expectativas, nos ajuda”.
O presidente do BC afirmou ainda que o índice geral de inflação foi afetado pelas mudanças de impostos que ocorreram no preço da energia, telecomunicações e da gasolina. E acrescentou que em um cenário de expectativas de inflação muito maiores do que a meta no horizonte, mesmo com uma desaceleração da economia ocorrendo, é preciso olhar para essa dinâmica de forma mais cuidadosa.
Sobre a meta de inflação, o presidente do BC já havia dito que a taxa básica de juros era necessária porque a autoridade monetária tem uma meta a ser perseguida. Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem feito críticas contundentes ao atual patamar da Selic, disse que se o problema é a meta de inflação, de 3,25% este ano, “muda-se a meta”.
No evento em Londres, Campos Neto reforçou que a autoridade monetária não decide sobre a meta de inflação, mas disse que a recomendação do BC é de que uma mudança “não deveria ser feita”. “Não decidimos sobre meta, mas nossa recomendação é de que não deveria ser feita mudança.”
A respeito da taxa básica de juros, ele admitiu que a taxa brasileira é maior do que a de alguns outros países do mundo, mas destacou que essa diferença tem diminuído ao longo dos anos. O Brasil é campeão mundial nos juros reais, quando a inflação é descontada da taxa.
Com presidente do BC na plateia, Rodrigo Pacheco faz fala dura sobre taxa de juros no Brasil
Nem mesmo em Londres Campos Neto escapou dos críticos ao atual patamar da taxa básica de juros. Da plateia londrina, ele viveu momento constrangedor ao ser obrigado a ouvir a fala contundente do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que também esteve presente no evento.
Pacheco fez uma cobrança dura da queda na taxa de juros, dizendo que é um tema que une o Brasil neste momento. “Se há algo que nos une é a impressão, o desejo, a obstinação de reduzir a taxa de juros”, disse Pacheco na conferência do grupo Lide.
Ainda, Pacheco disse que a autonomia do BC, prevista em lei, poderá ser questionada caso os juros não baixem rapidamente. “Nós aprovamos a autonomia do Banco Central, mas a perspectiva dessa autonomia era para que o BC não fosse suscetível a interferências indevidas. Mas há um sentimento geral de que precisamos encontrar os caminhos para a redução imediata da taxa de juros, sob pena de sacrificar este trabalho que estabelecemos nos últimos anos”, declarou.
O presidente do Senado ainda lembrou que diversos ganhos institucionais realizados nos últimos anos perderão eficácia caso a taxa Selic não caia. “Temos gerado bons frutos: a inflação contida, com viés de queda, nossa moeda estável. Agora precisamos crescer o Brasil, e não conseguimos com a taxa de juros a 13,75%”, afirmou.
Sobre o arcabouço fiscal, Pacheco defendeu a aprovação do projeto e, também, da reforma tributária. Contudo, sem que haja aumento da carga fiscal.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo e de O Estado de S.Paulo