Reforma tributária sobre o consumo deve ser votada pelo plenário do Senado nesta 4ª feira. Veja o que está previsto no texto

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou o avanço da proposta em uma rede social. Mas aumento de exceções incluídas no texto pode elevar a alíquota final do IVA que será criado.
8 de novembro de 2023

O texto da reforma tributária sobre o consumo deve ser votado, nesta quarta-feira (8), no plenário do Senado. Ontem (7), o relatório do senador Eduardo Braga (MDB-AM) foi aprovado com 20 votos favoráveis e seis contrários na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Também foi aprovado um requerimento para acelerar a votação da proposta na Casa.

Se o texto da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 45/19 for aprovado sem mudanças pelo plenário do Senado, a proposta volta para a Câmara dos Deputados, onde já havia sido aprovada em maio. Mas, como houve mudanças feitas pelos senadores, o texto precisa ser novamente apreciado pelos deputados.

Ontem, em seu perfil oficial na rede social X (antigo Twitter), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou o avanço da proposta no Congresso. Em dois tuítes, Haddad escreveu: “A reforma tributária é a pedra angular de um novo período de desenvolvimento nacional. Está acima de polarizações políticas porque beneficia a todos”.

Em outro post, feito na segunda-feira (6), ele havia escrito: “A reforma tributária pode trazer mais justiça e ter impactos muito positivos no aumento da produção brasileira”.

Contudo,  vale ressaltar que Haddad estava preocupado com uma série de exceções incluídas no projeto, que podem elevar a alíquota do IVA (Imposto sobre Valor Agregado) dual a ser criado para 27,5%, a mais alta do mundo.

Durante a elaboração do relatório, Braga incluiu exceções para uma série de produtos e serviços, que terão imposto reduzido ou zerado, além de benefícios fiscais.

Entre as exceções incluídas pelo relator para destravar a votação, estão cashback para gás e incentivo à produção de carro a álcool.

Para ser aprovada, a PEC necessita de 49 votos favoráveis dos 81 senadores, em dois turnos. Só depois desse rito o texto segue para a Câmara.

Relator ampliou exceções na reforma tributária e elevou de R$ 40 bilhões para R$ 60 bilhões o repasse que a União fará aos estados

De modo geral, a reforma tributária unifica cinco tributos que hoje incidem sobre o consumo, que serão reunidos no IVA, como acontece na maior parte dos países.

O IVA criado, que vem sendo chamado de IVA dual, será repartido em dois novos tributos: a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que unificar os tributos PIS, Cofins e IPI, de esfera federal; e o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), que vai reunir o ICMS (estadual) e ISS (municipal).

Os impostos passarão a ser cobrados no destino final, e não mais na origem. Na prática, essa mudança acaba com a chamada “guerra fiscal” entre os estados, em que incentivos fiscais eram dados para atrair empresas e investimentos.

Para compensar o fim desse instrumento, criou-se o FDR (Fundo de Desenvolvimento Regional). Nas últimas semanas, o relator da reforma ampliou exceções e elevou de R$ 40 bilhões para R$ 60 bilhões o repasse anual que a União terá de fazer aos estados para compensá-los pelo fim da guerra fiscal.

A proposta também cria o IS (Imposto Seletivo), também chamado de “imposto do pecado”, e que será cobrado sobre itens que fazem mal à saúde e ao meio ambiente.

Ontem, Braga alargou ainda mais a lista de exceções, em uma tentativa de obter apoio para o avanço da proposta.

Essas alterações impactam diretamente as famílias de baixa renda, com a criação de um cashback (devolução de imposto) na compra do gás de cozinha, além de incentivos a setores econômicos e estados e municípios.

No relatório anterior, Braga já havia deixado obrigatória a devolução de imposto para o consumo de energia elétrica para beneficiários do CadÚnico (Cadastro Único). Os novos benefícios divulgados ontem foram para taxistas e para sociedades anônimas de futebol (SAFs), entre outros.

Entre os tratamentos especiais incluídos no texto final do relatório estão regimes específicos para:

  • Combustíveis e lubrificantes;
  • Serviços financeiros, operações com bens imóveis, planos de assistência à saúde;
  • Sociedades cooperativas;
  • Serviços de hotelaria, parques de diversão e parques temáticos, agências de viagens e de turismo, bares e restaurantes;
  • Atividade esportiva desenvolvida por sociedade anônima do futebol (SAF);
  • Aviação regional;
  • Operações alcançadas por tratado ou convenção internacional;
  • Serviços de saneamento e de concessão de rodovias;
  • Serviços de transporte coletivo de passageiros rodoviário intermunicipal e interestadual, ferroviário, hidroviário e aéreo;
  • Operações que envolvam a disponibilização da estrutura compartilhada de serviços de telecomunicações.

O texto também prevê isenção total da alíquota para:

  • Produtos hortícolas, frutas e ovos;
  • Compra de automóveis por pessoas com deficiência ou no espectro autista, bem como por taxistas;
  • Serviços de educação do Prouni;
  • Serviços prestados por instituição científica;
  • Compra de medicamentos e dispositivos médicos por serviços públicos;
  • Reabilitação urbana de zonas históricas;
  • Produtor rural pessoa física ou jurídica com receita anual inferior a R$ 3,6 milhões. Alíquota reduzida em 60%.

O texto também prevê alíquota reduzida de 60% para os seguintes serviços:

  • Serviços de educação;
  • Serviços de saúde;
  • Dispositivos médicos;
  • Dispositivos de acessibilidade para pessoas com deficiência;
  • Medicamentos;
  • Produtos de cuidados básicos à saúde menstrual;
  • Serviços de transporte público coletivo de passageiros rodoviário e metroviário de caráter urbano, semiurbano e metropolitano;
  • Alimentos destinados ao consumo humano;
  • Produtos de higiene pessoal e limpeza majoritariamente consumidos por famílias de baixa renda;
  • Produtos agropecuários, aquícolas, pesqueiros, florestais e extrativistas vegetais in natura; insumos agropecuários e aquícolas;
  • Produções artísticas, culturais, jornalísticas e audiovisuais nacionais, atividades desportivas e de comunicação institucional;
  • Bens e serviços relacionados a soberania e segurança nacional, segurança da informação e segurança cibernética.

Também está prevista redução de 30% da alíquota para os seguintes itens:

  • Serviços de profissão intelectual de natureza científica, literária ou artística, desde que sejam submetidas a fiscalização por conselho profissional;
  • Cesta Básica Nacional e Cesta Básica estendida

A reforma prevê a criação da Cesta Básica Nacional, cujos produtos terão redução a zero das alíquotas do imposto . Além disso, foi estabelecida uma Cesta Básica estendida a outros alimentos, os quais terão redução de 60% e darão direito a cashback.

Carros elétricos e a biocombustível permanecerão com incentivos fiscais até 2032.

Para agradar estados do Centro-Oeste, Braga permitiu a criação de nova contribuição sobre produtos primários para abastecer fundos estaduais.

Antes negada pelo relator, a medida é um aceno aos estados da região que se sentiram prejudicados com a divisão do Fundo de Desenvolvimento Regional. Os recursos serão distribuídos com prioridade para estados com menor PIB (Produto Interno Bruto) e maior população.

A reforma tributária vem sendo discutida no país a ao menos quatro décadas. A proposta que avança no Senado prevê um período de transição para unificação dos tributos em um período de sete anos, entre 2026 e 2032. A partir de 2033, os impostos atuais serão extintos.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do G1 e de O Globo

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